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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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VIANA DO CASTELO: SABIA QUE AS DIFERENTES CORES DOS TRAJES DE DOMINGAR TAMBÉM REPRESENTAM OS ESTADOS EMOCIONAIS DAS MULHERES?

Tradicionalmente, as cores base dos Trajes de Domingar femininos desta região, e especialmente a cor da barra das saias, eram o vermelho, o preto e o azul marinho.

Estas três cores são as mesmas usadas nas barras dos Trajes à Vianesa.

No entanto, nos Trajes de Domingar, as diferentes cores representam distintos estados emocionais, ou até mesmo, a classe etária das pessoas que os usam. Assim, se os trajes vermelhos eram essencialmente usados por jovens e mulheres mais novas, os trajes de cor base preta e azul marinho eram preferidos por mulheres de mais idade, e usados em situações de luto aliviado, pela altura da quaresma e na semana de finados.

O Traje de Domingar de barra azulão, também designado localmente por “Traje da Cidade”, foi criado pelas meninas da cidade.

Trajes de Domingar pelo G.F. de Danças e Cantares de Alvarães e G.F. de Viana do Castelo

Partilhamos alguns detalhes que integraram a exposição “O Traje na Romaria” que esteve patente durante a Romaria d'Agonia de 2023.

Fonte: Romaria d’Agonia

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VIANA DO CASTELO: SANTA MARTA SAIAS NEGRAS / TEM VIDRILHOS DE LUAR – FOTO DE SÉRGIO MOREIRA & SÍLVIA MOREIRA

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A minha terra é Viana

Sou do monte e sou do mar

Só dou o nome de terra

Onde o da minha chegar.

 

Ó minha terra vestida

De cor de folha de rosa

Ó brancos saios de Perre

Vermelhinhos de Areosa

 

Virei costas à Galiza

Voltei-me antes para o mar

Santa Marta saias negras

Tem vidrilhos de luar.

 

Dancei a gota em Carreço

O Verde Gaio em Afife

Dancei-o devagarinho

Como a lei manda bailar

Como a lei manda bailar

 

Dancei em fila a Tirana

E dancei em todo o Minho

E quem diz Minho diz Viana.

 

Virei costas à Galiza

Voltei-me então para o Sul

Santa Marta saias verdes

Deram-lhe o nome de azul.

 

A minha terra é Viana

São estas ruas estreitas

São os navios que partem

E são as pedras que ficam.

È este sol que me abrasa

Este amor que não engana

Estas sombras que me assustam

A minha terra é Viana.

 

Virei costas à Galiza

Pus-me a remar contra o vento

Santa Marta saias rubras

Da cor do meu pensamento.

 

Poema de Pedro Homem de Mello

PORQUE EXIBEM AS MINHOTAS O OURO DE FORMA TÃO EXUBERANTE?

É frequente algumas pessoas de diferentes regiões do país, ligadas ao meio folclórico, questionarem-se acerca da exuberante exibição do ouro em terras minhotas, lembrando as dificuldades com que o povo outrora vivia.

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A atracção das nossas gentes por esse metal tão bonito quanto precioso remete-se aos confins da nossa História, ao tempo em que as nossas mulheres se adornavam com torques e braceletes que inspiram a moderna ourivesaria minhota. Os próprios romanos chegaram a explorar as abundantes jazidas existentes na nossa região. Contudo, a importância do ouro na tradição minhota possui uma exlicação bem mais recente!

No meio rural, aliás à semelhança do meio urbano, existiam várias classes sociais de camponeses (na cidade, de burgueses!) ou seja, havia desde os mais abastados até àqueles quem praticamente nem propriedade para cultivar possuíam, sendo por isso forçados a trabalhar ao jornal por conta de outrem.

Na região de Entre-o-Douro e Minho, muitos camponeses foram obrigados a emigrar para o Brasil para escapar à miséria que então assolava os campos. Não raras as vezes escapavam clandestinamente escondidos nos porões dos navios que partiam de Viana do Castelo ou outros portos.

Porém, muitos deles regressaram ricos, construíram os seus solares e casas apalaçadas, as chamadas as casas dos brasileiros, sobretudo ao longo do litoral minhoto. Eram os “brasileiros de torna-viagem”.

Do seu bolso ajudaram a construir escolas, beneficiaram igrejas e de um modo geral contribuíram para o progresso das suas terras de origem. Mas também não esqueceram as suas afilhadas, oferecendo-lhes geralmente um rico dote em oiro para que também elas viessem a conseguir um bom casamento... é isso que em grande medida explica uma exibição mais exuberante do ouro nesta região em contraste com outras regiões do país!

Em relação à exuberância, tal constitui um traço do carácter minhoto que define bem a sua personalidade. Longe da monotonia de outras terras, o minhoto vive desde que nasceu rodeado de uma paisagem alegre e deslumbrante onde a grandeza das montanhas contrasta com a doçura verdejante das suas veigas. Por isso, ele é jovial e alegre. E, todos os momentos da vida, incluindo os mais difíceis, enfrenta-os com um sorriso nos lábios. O trabalho, a religião e a própria gastronomia são vividos em festa! A sua enorme paixão pelo fogo-de-artifício e a forma como decora os arcos de romaria são disso um exemplo… como poderia ser de outro modo o seu gosto pela ourivesaria?

Foi também esta procura pelos objectos de adorno em ouro que permitiu o desenvolvimento da ourivesaria sobretudo em Gondomar e Póvoa de Lanhoso, fazendo desta arte um dos ex-líbris de Portugal mundialmente reconhecido.

Foto: José Carlos R. Vieira