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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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UM MUNDO NOVO PERFEITO: JOÃO MARCOS TRANSFORMA O SONHO EM POESIA

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“Um novo mundo perfeito” é um livro de poemas do escritor João Marcos, na realidade uma segunda edição revista e aumentada de uma das suas obras de referência como muito justamente se refere José Fernando Tavares nas primeiras linhas de um prefácio que relata de uma forma excepcional o pensamento e os estados de alma do poeta, introduzindo o leitor na poesia e seduzindo-o na sua leitura até à derradeira sílaba do último verso. Mais uma vez, encontra-se de parabéns a editora “Escritor” por mais este contributo na divulgação da literatura portuguesa e pelo excelente aspecto gráfico que vem imprimindo às suas edições. A capa é da autoria de Adalberto Sampaio e a edição contou com o apoio da Câmara Municipal de Ponte de Lima.

“Um novo mundo perfeito” constitui, por assim dizer, um manifesto de liberdade e de esperança, feita daquela utopia que leva os homens a transformar o mundo e construir a cada passo sociedades mais justas e fraternas. Trata-se de um sonho que, melhor do que ninguém, João Marcos sabe transformar em poesia com a mestria dos nossos melhores poetas – assim queira o Homem torná-lo realidade. É, como o próprio prefácio indica referindo-se deslo logo ao título que ostenta, “uma expressão de liberdade, um verdadeiro grito que é mais do que uma metáfora: é uma exigência reclamada pela própria condição humana. Desejar um mundo perfeito mais não é do que a manifestação de uma vontade ancestral do homem. Radica-se aqui a essência de um mito particularmente importante na vivência e nas necessidades do homem contemporâneo: o mito do eterno retorno, aquele de que Nietzche nos fala com a apaixonada exaltação que lhe é característica e que, não muito mais tarde, um Raul proença, em Portugal, irá desenvolver em pensamento autónomo. Desejar um mundo perfeito, mais do que a manifestação de um desejo pessoal, é um direito que todo o homem deve exigir à própria evolução civilizacional. Se assim não for, a humanidade correrá um sério risco, independentemente de todos os bárbaros atentados que se fazem ao planeta”. Não pretendendo alongar-nos em apreciações que certamente o leitor dispensará pelo prazer que seguramente irá usufruir na leitura deste livro de poemas, quedamo-nos na trascrição alguns versos que dão início à obra e que o autor titula “Antes do Princípio”:

 

Sobre o papel invisível

De milhões de folhas brancas

Escreve a pena dos séculos

Uma história de fantasmas

Em caracteres etéreos…

E eu leio o que não se escreve

Sobre o papel invisível

De milhões de folhas brancas.

 

O sol, os mares, a Terra

São noções imaginárias,

Ou são conceitos em gérmen

Dum Universo incriado

Que, finalmente, algum dia

Surgirá do imenso Nada.

 

O escritor Cláudio Lima que foi biógrafo e amigo de João Marcos, definiu a sua poesia da seguinte forma: “um permanente convite à elevação, ao compromisso com a vida e os valores que a substantivam, à prática de um exercício reflectivo sobre o Homem e o Universo. Mesmo quando parece deter-se em coisas miúdas e prosaicas, mesmo quando a sua musa azougada o seduz aos bosques de um erotismo faunesco ou o tenta enredar nos liames de um telurismo primário e convencional – sempre o Poeta se esquiva ao conceito gasto, ao efeito fácil, e imprime o seu selo de autenticidade, fazendo do acto de escrever não um mero auto-enamoramento narcisista, mas o reflexo nítido do que de mais nobre e imperecível deve fundamentar a vida e sublimar a arte”.