ARCOS DE VALDEVEZ: FREGUESIA DE MIRANDA FOI O CELEIRO DE TRIGO DO ALTO MINHO
Situada na margem direita do rio Lima, ergue-se na Freguesia de Miranda o Mosteiro de Santa Maria, considerado um dos mais antigos mosteiros do concelho de Arcos de Valdevez dedicados a São Bento, remontando muito provavelmente a meados do século XII.
Com uma paisagem soberba, Miranda foi uma das raras localidades minhotas dedicadas à cultura do trigo. De resto, a sua toponímia na qual predomina os fitotopónimos é bem elucidativa a esse respeito. Agrochão, Carvalhal, Cotão, Devezinha, Letrigo e Mangoeiro são alguns dos exemplos que indicam a atividade cerealífera das suas gentes.
Porém, outras atividades desenvolveram-se em Miranda para satisfazer as necessidades da sua população, nomeadamente em matéria de vestuário e de manufatura de utensílios de trabalho, dando origem aos ofícios de tecedeiras, tintureiros, tamanqueiros, carpinteiros de alfaias agrícolas e moleiros. Seguramente, em velhas casas, ainda se guardam a um canto antigos teares que constituem verdadeiras peças museológicas.
Nos tempos que correm, para além de algum comércio, predomina em Miranda a agricultura e a pecuária. À semelhança de outras localidades do interior, muitos dos seus filhos tiveram um dia de partir para terras distantes à procura de melhores condições de vida. Lisboa, França e Venezuela encontram-se entre os principais destinos da emigração arcuense.
O escritor arcuense Teixeira de Queiroz deixou-nos um retrato da paisagem da sua terra, quais pinceladas em tons álacres que compõem o mais belo quadro da Freguesia de Miranda.
“A paisagem minhota, no coração do Minho, é dum gracioso presépio, um desses presépios lindos, em que figurassem os aprazíveis reis magos, na sua visita ao prodígio da Galileia. É miudinha, aconchegada e acolhedora, como o carácter do seu povo, sempre afectivo, povo desconfiado, dando-se facilmente, mesmo com aqueles que não conhece. De qualquer volta de estrada se pode apreciar, num resumido fragmento de terra, o folhedo misterioso dos carvalhos, a alegria dos vinhedos manchando a encosta, a casaria branca e o campanário esguio a espreitarem de entre o arvoredo copado, a horta e a seara espalmando-se no estreito vale, o moinho com a sua roda a grassar no fim do açude de espuma branca. É tudo tão pequenino, tão jeitoso que parece poder tomar-se na concha da mão.
Teixeira de Queiroz, in Atlântida
Fotos da autoria de vários habitantes da Freguesia de Miranda