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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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DEPUTADO DA ASSEMBLEIA NACIONAL, EM 1970, CONSIDEROU QUE PODERIA TER SIDO EVITADA A PERDA DA ALDEIA DE VILARINHO DA FURNA

As consequências da construção no rio Cavado da barragem de Vilarinho da Furna, mormente para a aldeia de Vilarinho da Furna e as suas gentes, não mereceram especial atenção da parte dos deputados da Assembleia Nacional. De uma maneira geral, mostraram-se particularmente mais interessados nas vantagens que o “Plano Internacional de Fomento para 1965-1967” que previa a sua construção trazia para o país.

Apesar disso, o problema foi levantado pelo deputado Nunes de Oliveira, na sessão da Assembleia Nacional, realizada em 29 de Abril de 1970, referente à X Legislatura, a propósito da discussão na generalidade da proposta de lei sobre a protecção da Natureza e dos seus recursos. O referido parlamentar era natural de Barcelos, doutorado em Farmácia e professor universitário. Presidia à Comissão Concelhia de Barcelos e era Vogal da Comissão Distrital de Braga da União Nacional. Foi por diversas vezes deputado à Assembleia Nacional e foi ainda Procurador à Câmara Corporativa por designação do Conselho Corporativo.

Em relação à sessão da Assembleia Nacional da qual se transcreve uma passagem da intervenção do Dr. Nunes de Oliveira, a mesma era presidia à referida sessão Carlos Amaral Netto, e secretariada por Silva Pereira e Mota Amaral.

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Joaquim José Nunes de Oliveira, deputado à Assembleia Nacional 

“Sr. Presidente: A proposta de lei em discussão corresponde, como, aliás, se afirma no bem elaborado parecer da Câmara Corporativa, a uma necessidade nacional, não podendo deixar de suscitar, por tal motivo e pelas razões a seguir aduzidas, o meu natural interesse como Deputado eleito pelo círculo de Braga.

Em intervenção efectuada na última sessão legislativa da IX Legislatura, sobre alguns aspectos turísticos da minha região, referi o caso específico do Parque Nacional do Geres, o qual antevia, como primeiro parque nacional português - com possibilidades de grande êxito, até porque a quase totalidade dos terrenos -abrangidos pêlos distritos de Viana do Castelo, Braga e Vila Real, nas serras da Peneda, Amarela e Geres -, numa área aproximada de 50 000 ha, já se encontram submetidos ao regime florestal.

E portanto, com vivo regozijo que vejo aproximar-se o momento de concretização de um sonho de há longos anos, cujo início se pode situá-la na publicação do Regulamento dos Serviços Florestais da Serra do Geres, no Diário do Governo, n.° 295, de 26 de Dezembro de 1888. Os anos decorreram e em 1939 é aprovado o projecto de arborização do perímetro do Geres, altura em que claramente se reconhece a necessidade do parque nacional. E com o pensamento na realização de uma obra que permitisse aproveitar a incomparável dádiva com que a Natureza dotou aquela região do Nordeste português, encetou a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, através dos seus distintos técnicos e bem apoiada pelas autarquias locais, estudos que nos garantem, ao apreciarmos esta proposta de lei, a certeza de que podemos contar, de seguida, com o primeiro parque nacional, o qual representará um forte pólo de atracção turística de alta importância.

Pena foi que tantos anos decorressem sobre esta ideia tão magnífica, pois talvez não assistíssemos à destruição dê alguns motivos cinegéticos e botânicos que Importava preservar. Mas, mais do que isso - e nesse pesar acompanho o ilustre relator do parecer da Câmara Corporativa -, ter-se-ia possivelmente encontrado uma solução para evitar a perda, por exemplo, de Vilarinho das Furnas, a preciosa "aldeia comunitária" que breve ficará sepultada pelas águas de uma barragem e que sempre constituiu motivo de aliciante visita.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E por muito que se pretenda fazer crer, também sou dos que pensam ser quase impossível a sua reconstituição.

Deixando, entretanto, as lamentações para nos situarmos no campo das realidades, verifica-se que, por sugestão do Conselho Europeu, foi o ano de 1970 designado como o ano da protecção á Natureza e, por coincidência, ao votarmos esta proposta de lei não só caminhamos no sentido de deixarmos de ser o único país na Europa que ainda não possui um parque nacional - não estou, como é evidente, a falar das nossas queridas províncias ultramarinas - como prestaremos o nosso apoio e aplauso aos dedicados técnicos, que tanto entusiasmo puseram na resolução de um problema de verdadeiro interesse científico, educativo e turístico.

A conservação da Natureza nos seus variados e múltiplos aspectos é de incontestável necessidade, não como idealismo platónico dos cientistas que a investigação se devotam nos campos da arqueologia, botânica e zoologia, mas como meio de enriquecimento da nossa flora e da nossa fauna e como valor contemplativo de tudo o que vai rareando na fúria destruidora em que parece ir mergulhando o mundo de hoje.

O Parque Nacional do Geres não terá apenas reflexos para o desenvolvimento do turismo da região em que se enquadra, porque os terá no próprio turismo nacional. Ele, como qualquer outro que surja, abrangerá vários tipos de reservas, desde aquelas que concorrem para a salvaguarda da fauna e da flora mais características das nossas montanhas, onde o turista só terá acesso a pé ou a cavalo, até as reservas envolventes, dos quais algumas se destinam aos repovoamentos indispensáveis, enquanto outras permitirão a prática da coça e da pesca devidamente regulamentada, como se impõe.

Entretanto, e a par de tudo isso. "a salvaguarda dos espaços territoriais ainda susceptíveis de fornecer ar puro, água cristalina, vida selvagem na sua integridade, espaços abertos no traumatizado homem dos nossos tempos", é uma necessidade premente nesta vida de constantes preocupações e em que o problema da poluição, tanto atmosférica como das águas, começa a causar as maiores inquietações. Compreende-se, por consequência, que tudo o que possa influir a pureza do ar que respiramos e proporcione um certo bem-estar e tranquilidade venha a ter repercussões dos mais salutares na saúde pública.

Ainda há poucos dias alguns jornais noticiaram movimentos levados a efeito nos Estados Unidos, no designado "Dia da Natureza", em que se verificaram vivas manifestações contra a poluição.

Detém-se o parecer da Câmara Corporativa sobre a situação do montanhês e diz-se que "a única conclusão razoável será a que corresponde à certeza de que as comunidades tradicionais de montanha estão perdidas" e que "a pastorícia de outras épocas já não atrai pastores, a agricultura das encostas e dos socalcos já não prende cultivadores. A população envelhece e, desprovida de juventude, perde fertilidade demográfica". E conclui por afirmar que "a comunidade de montanha, se não for socorrida, morre".

Ora, o que depreendo, pelo que tenho ouvido a pessoas responsáveis – e a própria proposta não contraria –, é que tudo se processará de modo a salvaguardar, por um lado, as actividades pastoris tradicionais, que continuarão a exercer-se, embora regulamentadas, como já agora acontece, e, por outro lado, a permitir que a população serrana, quer a enquadrada na área do parque nacional, quer a situada nus vizinhanças, possam ter abertas perspectivas materiais, traduzidas no aluguer de garranos e carros para excursões, na venda de objectos de artesanato, no serviço de guias, e te. Dessa forma ser-lhes-á facultada uma promoção que dificilmente, ou até nunca, atingiriam.

Ao caçador, ao pescador, ao simples turista - como aqui disse em intervenção que fiz - , não faltarão habitações serranas nada possam pernoitar e saborear uma ementa tipicamente nortenha, ao mesmo tempo que assistiremos a uma melhor utilização do equipamento hoteleiro do Geres, que nestes últimos dois anos sofreu uma agradável e profunda transformação, a servir de suporte importantíssimo a tão grandiosa obra.

A necessidade de um planeamento nacional impunha--se, bem como a legislação apropriada, a qual terá de assentar em número suficiente de pessoal que assegure eficaz fiscalização para seu indispensável cumprimento.

E com grande satisfação que dou o meu voto na generalidade a presente proposta de lei, deixando ainda expressa a esperança, que é quase uma certeza, de que o parque nacional a que especialmente me referi, – grande anseio do Noroeste português, seja uma breve realidade, como fonte de extraordinária riqueza local e nacional.”

As origens pagãs do Bolo-rei

Bolo-Rei

À semelhança do que sucede com a generalidade dos costumes actuais, perde-se no tempo a verdadeira origem do bolo-rei, da mesma forma que também este apresenta formas e designações variadas consoante as culturas. Assim, em Inglaterra mantém-se a tradição de comer e efectuar corridas com panquecas por ocasião da Terça-feira Gorda. Tratam-se, na realidade, de festividades de origem pagã que se encontram ligadas a rituais de fertilidade que outrora se realizavam por ocasião do Entrudo e visavam preparar a chegada da Primavera e, como ela, o renascimento dos vegetais.

A própria designação de Terça-feira Gorda remete-nos para o antigo costume de fazer desfilar pela cidade um boi gordo antes de sacrificá-lo, prática cujas reminiscências ainda se preservam nomeadamente através das largadas de touros e na corrida da Vaca das Cordas. Da mesma forma que nos festejos carnavalescos se preserva a figura do respectivo Rei que cabia outrora àquele que no bolo encontrasse a fava ou o feijão dourado, sendo como tal tratado durante o ano inteiro.

Por seu turno, os romanos introduziram tal prática por ocasião das saturnais que eram as festividades que se realizavam em 25 de Dezembro, em celebração do solstício de Inverno, também eles elegendo um rei da festa escolhido á sorte pelo método da fava. À semelhança do que se verifica com a Coroa do Advento, a sua forma circular remete para antigos ritos solares perfeitamente enquadrados nas festividades solsticiais e nas saturnais romanas.

Com vista à conversão dos povos do Império Romano que preservavam em geral as suas crenças pagãs, o Cristianismo passou a identificar o “bolo-rei” com a celebração da Epifania e, consequentemente, aos Reis Magos. E, assim, aos seus enfeites e condimentos passaram a associar-se as prendas simbólicas oferecidas ao Messias ou seja, a côdea, as frutas secas e cristalizadas e o aroma significam respectivamente o ouro, a mirra e o incenso. Apesar disso e atendendo a que eram três os reis magos, esta iguaria não passou a ser identificada como “bolo dos reis”, conservando apenas a sua designação como “bolo-rei” ou seja, contrariando a sua própria conversão.

Durante a Idade Média, este costume enraizou-se na Europa devido à influência da Igreja a tal ponto que passou a ser celebrado na própria corte dos reis de França e a ser conhecido como Gâteau des Rois. Porém, com a revolução francesa, o mesmo veio a ser proibido em virtude da sua alusão á figura real, o mesmo tendo sucedido entre nós, imediatamente após a instauração da República, tendo alguns republicanos passado a designá-lo por “bolo-presidente” e até “bolo Arriaga”, em homenagem ao então Presidente da República.

Quanto aos seus condimentos e método de confecção, é usual associar-se à tradição da pastelaria francesa a sul do Loire, o que parece corroborar com a informação de que foi a Confeitaria Nacional a primeira casa que em Portugal produziu e vendeu o bolo-rei a partir de uma receita trazida de França, por volta de 1870. Resta-nos saber, até que ponto, também esta não terá buscado inspiração no tradicional bolo inglês.

Com a aproximação da Páscoa associada à chegada da Primavera e, com ela, o renascimento da Vida, o tradicional folar não trará favas escondidas no seu interior mas ovos que simbolizarão a fertilidade, de novo a evocar ritos ancestrais a um tempo anterior à nossa conversão ao Cristianismo.

GOMES, Carlos. http://www.folclore-online.com/

BRAGA TEM O MAIOR PRESÉPIO VIVO DA EUROPA

A paróquia de Priscos, em Braga, criou o “maior presépio vivo da Europa”. Trata-se de um presépio que conta com a participação de 800 figurantes, estendendo-se por uma área de 30 mil metros quadrados onde foram colocados mais de 70 cenários alusivos às culturas egípcia, judaica e romana.

De acordo com as palavras do padre João Torres, Pároco de Priscos, à Agência Ecclesia, esta reconstituição do nascimento de Jesus tem por objectivo “levar as pessoas, neste tempo de sombras, a olharem para a luz do Natal e a perceberem que Jesus não foi um mito, nasceu numa cultura concreta, com pessoas que também trabalhavam e tinham as suas dificuldades”.

No próximo dia 1 de Janeiro, o Presépio de Priscos vai ser palco de um minuto de silêncio que vai ser observado em prol da paz na Terra Santa e que contará com a presença de D. Carlos Ximenes Belo, Prémio Nobel da Paz.

A LINHA FÉRREA DO VALE DO LIMA

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Na segunda metade do século XIX, Portugal registou um forte incremento dos meios de comunicação e de transporte, graças à política seguida por Fontes Pereira de Melo e pelo Partido Regenerador, uma vez que essa constituiu conjuntamente com a realização de grandes obras públicas, a estratégia de desenvolvimento económico preconizada pelos regeneradores. Esse período história que ficou conhecido por “regeneração” ou “fontismo”, marca o início da implementação do transporte ferroviário em Portugal, tendo a primeira linha de caminho-de-ferro sido construída em 1856 entre Lisboa e o Carregado, por iniciativa da Companhia Central e Peninsular dos Caminhos de Ferro em Portugal. Por motivos financeiros, esta empresa acabou por ceder lugar, alguns anos decorridos, à chamada Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses que entretanto se constituiu com vista a levar o este meio de transporte ao Porto e à fronteira o mais rapidamente possível. Assim, em 1864 o comboio chega a Vila Nova de Gaia, é feita a ligação entre das duas margens do Douro através da ponte de Eiffel em 1877 e, finalmente, chega à Galiza através de Valença em 1886. Antes, porém, em 20 de Maio de 1875 já havia circulado o primeiro comboio entre as cidades do Porto e Braga, facto que constituiu a inauguração deste meio de transporte a norte do rio Douro.

Concretamente à região do Vale do Lima, até então apenas servida por via fluvial e, por via terrestre pela diligência cuja viajem atribulada pelas estradas macadamizadas se apresentavam como uma verdadeira odisseia, a qual nos descreve Ramalho Ortigão n’ As Farpas, esteve durante muito tempo nos propósitos de sucessivos governos a construção de uma linha de caminho-de-ferro a ligar Viana do Castelo a Ponte da Barca, com prolongamento até à fronteira pelo Lindoso. O primeiro registo de que dá notícia dessa intenção consta da autorização concedida em 18 de Junho de 1874 a Alberto Meister para aí estabelecer o referido meio de transporte, tendo esta vindo a caducar em virtude do concessionário não ter apresentado o respectivo projecto ao governo no prazo estabelecido de um ano, contado a partir da data da concessão, como determinava o respectivo decreto. Reinava então D. Luís I e era seu Ministro e Secretário de Estado dos Negócios das Obras Públicas, Comércio e Indústria, António Cardoso Avelino.

Um ano após, em resposta ao requerimento apresentado por Damião António Pereira Pinto com vista à obtenção de “licença para construir e explorar um caminho de ferro de via reduzida, servido por locomotivas e assente em leito próprio, para transporte de passageiros e mercadorias entre Vianna do Castello e a villa da Barca”, foi publicado novo Decreto com data de 27 de Julho de 1875, através do qual era feita a concessão pretendida. À semelhança do anterior decreto, também este estabeleceu um conjunto de condições, a maior parte das quais nos dão uma ideia da obra projectada, nomeadamente no que se refere à largura dos carris, características das pontes e travessias, passagens de nível e material circulante. A título de exemplo, os aquedutos e pontes deveriam ser feitas em pedra, tijolo ou madeira, “as machinas locomotivas deverão ser conformes aos melhores modelos conhecidos e de systema apropriado para transporte mixto de passageiros e mercadorias” e a abertura de apeadeiros não poderia ser estabelecida entre distâncias inferiores a cinco quilómetros. O concessionário obrigava-se ainda a instalar o serviço telegráfico, o qual teria uso gratuito para o governo, à semelhança aliás do transporte das malas e funcionários dos correios.

Entretanto, em 1889 D. Carlos I sucede a seu pai no trono e as tentativas de levar os particulares a construir uma linha de caminho-de-ferro entre Viana do Castelo e Ponte da Barca prosseguem sem contudo registarem-se quaisquer resultados visíveis. Alguns anos mais tarde, o jornal “O Libertador de Coura” garantia na sua edição de 11 de Abril de 1897 que, “…vai ser feita a concessão de um caminho de ferro que deve ligar Viana com Ponte de Lima, Arcos e Barca, seguindo, mais tarde, até à fronteira, nas proximidades de Lindoso. Essa via férrea terá estações na Meadela, Santa Marta, Serreleis, Lanheses, Bertiandos, Ponte de Lima, proximidades do Carregadouro e outros pontos”. Preconizava então o articulista que o “grandioso melhoramento se realize em breve, não só pelas muitas vantagens que dele resultam para os povos do Vale do Lima, como também pelas comodidades que nos advirão a nós, pois será mais económica a viagem para a capital do distrito por Ponte de Lima ou Arcos do que por S. Pedro da Torre, e teremos carreiras diárias com estas duas localidades”.

O referido jornal referia-se à concessão que viria a ser feita em 7 de Julho de 1898, a Alberto da Cunha Leão e a António Júlio Pereira Cabral para a construção e exploração dos caminhos-de-ferro da Régua a Chaves e à fronteira, e a conceder a construção e exploração da linha de férrea do Vale do Lima, autorizando a sua exploração “por meio de tracção eléctrica” e concedendo facilidades como o alargamento do prazo de isenção de impostos até trinta e cinco anos e “o direito de opção na construcção e exploração de todas as linhas convergentes a pontos situados dentro das zonas lateraes de 30 kilometros”.

Por essa altura, o Ministério da Obras Publicas, Commercio e Industria publica o “Plano da Rede Ferro-Viaria ao Norte do Mondego”, proposto pela “Commissão Encarregada do Estudo d’Este Plano”, por Decreto de 6 de Outubro de 1898, o qual procede à análise das acessibilidades e aspectos económicos dos concelhos que iriam beneficiar do empreendimento como resultado de um inquérito feito às diversas câmaras municipais sobre o plano de linhas férreas a construir a norte do rio Mondego. A este propósito e no que a Ponte de Lima mais concretamente diz respeito, o referido estudo considerava o seguinte: “Um caminho de ferro para Vianna e, quando este se não construa, fazer derivar para Ponte de Lima a linha de Braga á Ponte da Barca, por isso que esta povoação e concelho é bem mais importante do que aquelle.

O traçado do caminho de ferro de Vianna a Ponte de Lima deve ser attendido. Existem estudos particulares d’esta linha, com cuja execução mais utilisaria o concelho, e que devem ser preferidos.” Mais ainda, “Se bem que não há industrias no concelho, é este relativamente rico e bastante activo o seu movimento commercial, devido á grande quantidade de productos agrícolas que exporta. Dos productos importados abastece os seus mercados e os dos concelhos limitrophes, devido á sua posição topographica. Aqui concorrem productos dos demais concelhos do districto, que poderiam com vantagem ser exportados se a sua conducção não fosse tão cara. Por isso a industria agrícola receberia um grande impulso com a construcção de uma linha férrea, a que a via fluvial não fará concorrência séria, por intransitável drante o verão. A producção vinicolatem duplicado nos últimos annos e virá a constituir uma parte da riqueza da região”.

Refira-se, a propósito, que o estudo em causa não contemplava somente aspectos de carácter económico e social como ainda se debruçava acerca de aspectos de natureza estratégica e defensiva, como se depreende pelas considerações de natureza geográfica e militar feita ao perímetro do concelho de Ponte da Barca: “Este concelho, para prosperar grandemente precisa que lhe facilitem as vias de comunicação, porque a maior parte das suas freguezias, que estão situadas ao nascente, nãos e acham servidas por vias de communicação regulares, o que paralysa os productos nos respectivos centros de producção e não deixa desenvolver esta.

Não só esta consideração de vantagem local, mas ainda outra vantagem geral, qual é a communicação com o reino vizinho, levará certamente os poderes públicos a prolongar, maistarde ou mais cedo, alinha do valle do Lima até a raia hespanhola, em Lindoso.

Esta linha do valle do Lima tem necessariamente de correr pela margem esquerda do Lima, não só pela maior facilidade e economia de construcção, mas também por causa da defeza do paiz, o que não deixará de ser ponderado pela commissão superior de guerra.

Uma irrupção de tropas hespanholas pela fronteira do rio Minho ou desde ahi até Montalegre póde ser efficazmente debellada com o auxilio d’esta linha, que não deixará ultrapassar o Lima. A invasão por aquelle lado da Galliza, situado entre o Minho e alturas de Montalegre, só se póde fazer por Lindoso e pela margem esquerda do Lima. Portanto é obvia a demonstração do que se deixa afirmado”.

A propósito de uma reclamação apresentada pela Câmara Municipal de Arcos de Valdevez que visava a alteração do referido plano ferroviário, o estudo em questão é peremptório: “No traçado de uma linha férrea não deve attender-se a concelhos, mas sim a regiões, e só se tem em vista as localidades, quando estas se impõem pela sua notável importância”. Acrescentando ainda que, “Quando se attender a circumscripções concelhias, o concelho dos Arcos não ficaria prejudicados, porque a estação de Ponte da Barca seria preferível a uma estação na villa dos Arcos de Valle de Vez, para muitas freguezias d’este concelho, já pela sua distancia mais curta, ou egual, já pela economia do transporte”.

Ainda, na sequência daquele estudo, é publicado um novo decreto com data de 27 de Abril de 1903 “mandando abrir concurso para a construcção e exploração das linhas férreas de Vianna a Ponte da Barca, de Braga a Monção, e de Braga a Guimarães”. O concurso público é aberto perante o Conselho de Administração dos Caminhos de Ferro do Estado, pertencendo estas vias à “rede complementar e classificadas por decreto de 15 de fevereiro de 1900”. Este diploma que inclui as “Bases para a elaboração do programma e caderno de encargos” estabelecia, entre outros aspectos, a obrigatoriedade da designação “do Valle do Lima” e, relativamente ao seu traçado, “partindo da estação de Vianna do Castello, siga margem direita do Lima até as proximidades de Lanhezes, e, atravessando ahi o rio, vá por Ponte de Lima a Ponte da Barca, ligando-se ahi com a linha antecedente”. O decreto determinava também a largura de 1 metro entre os carris e o estabelecimento de carruagens de duas classes, bem assim o estabelecimento de portagens na ponte a construir nas proximidades de Lanhezes, a qual deveria ser “construída em condições de poder servir tanto para a viação ordinária como para a accelerada”. As obras de construção desta linha deveriam ter o seu começo dentro dos três meses imediatos à data daquele decreto e ficarem prontas no prazo máximo de três anos.

Os trabalhos de construção do leito da via iniciaram-se e a área de Viana do Castelo chegou mesmo a ter os carris assentes, precisamente onde actualmente se situa a rua do Vale do Lima e, entre Ponte de Lima e a localidade de Bertiandos, uma recta paralela à Estrada Nacional 202 utiliza parte do seu traçado, havendo ainda a referir a existência de nivelamentos e pontes secas em Arcozelo e noutros locais do seu percurso previsto. O material circulante foi adquirido, inclusive novas locomotivas, devendo em Ponte de Lima ser construída uma estação num sítio próximo da actual praia fluvial do Arnado a servir de entroncamento com a linha de Braga a Monção. Segundo o decreto de 1903 a que acima nos referimos, esta via deveria constituir um prolongamento da linha de Braga a Guimarães, a qual por sua vez faria ligação com as linhas da Trofa a Guimarães e de Guimarães a Fafe. Assim, partindo da estação de Braga, aquela linha seguiria por Ponte da Barca e Arcos de Valdevez em direcção a Monção, residindo aqui algumas dúvidas quanto ao seu traçado.

A propósito do sucessivo adiamento do projecto, o jornalista e escritor Mário Gonçalves Viana teceu na edição de Natal da revista Alma Nova algumas considerações acerca dos estudos realizados que visavam dotar o Minho de estruturas ferroviárias, das quais transcrevemos a seguinte passagem: “Mas há imenso a fazer além disto, como a ligação de Viana-do-Castelo a Ponte-do-Lima até Arcos. Todo o Minho vive asfixiado, sem meios de comunicação, cansado de esperar em promessas fantasiosas…”. E acrescentava: “Agora, que se trata também de conseguir a concessão duma outra linha férrea de Braga a Monsão, por Vila Verde, Ponte-da-Barca e Arcos-de-Valdevez, urge reconhecer a utilidade colossal deste benefício importantíssimo, e por isso toda a província, no seu próprio interesse, o deve favorecer, bem como o estado, que só terá a lucrar com uma nova actividade económica, um aumento crescente para as suas contribuições”.

O tempo passa e o projecto volta de novo à liça em 1929 quando a Direcção Geral dos Caminhos de Ferro, organismo adstrito ao Ministério do Comércio e Comunicações, resolve submeter a inquérito administrativo o “Plano Geral da Rede Ferroviária do Continente”, documento este “proposto pela Comissão encarregada da elaboração desse plano (Decreto nº. 13:829, de 17 de Junho de 1927)” e que é publicado através da Imprensa Nacional. Pelo referido plano ficamos a saber o parecer dado pela Câmara Municipal de Ponte da Barca a qual considerava o seguinte: “O traçado desta linha dentro do nosso concelho, tomando a margem direita do Vade, segue o caminho que mais nos convém, e fora do nosso concelho também nos parece que serve pela melhor maneira as regiões que atravessa. O caminho de ferro de Viana a Ponte da Barca percorre um dos mais populosos, dos mais férteis e dos mais lindos vales de Portugal. Será a melhor via tributária do porto de Viana e, quando prolongado até à fronteira, drenará para aquele porto o tráfego da importante região galega da Cuenca del Limia”. Este parecer, subscrito pelo respectivo Presidente da Comissão Administrativa, regozijava-se pelo traçado proposto o qual, após sucessivas soluções apresentadas, previa o atravessamento do rio Lima na zona do Carregadouro, o que permitiria evitar todos os inconvenientes que daí poderiam advir caso fosse aprovada qualquer uma das outras soluções anteriormente apresentadas.

Por seu turno, os anexos ao “Plano Geral da Rede Ferroviária do Continente” revelava um aspecto que indiciava já o abandono de um projecto que, afinal de contas, não passou de mais uma miragem para as gentes desta região: “Foi há poucos anos objecto de inpensada tentativa de substituição por um tranvia eléctrico assente no leito da estrada, que pela sua estreiteza (6m,60), e pelas curvas de pequenos raios em rampas fortes, de modo algum comportaria uma linha de interesse geral em que devia circular o material vindo das outras.

Depois de adquirido por alto preço material circulante: automotoras e tractores eléctricos, reparou-se o erro cometido e mandou-se elaborar com urgência o projecto da linha em leito próprio.

É assunto resolvido, tendo-se fechado o triste parêntesis aberto em 1923.

Limita-se pois a comissão a instar pela pronta construção da linha e a manter no plano o prolongamento de Ponte da Barca à fronteira pela margem esquerda.

            Ocioso é relembrar que o traçado deve seguir a margem direita do Lima, desde Viana até ao Carregadouro, onde o rio estreita e deixa de ser navegável, transpondo-o em ponte pouco extensa e de fácil construção, que deve servir também para a viação ordinária. Na estrada de Ponte da Barca deve haver um triângulo que facilite os combóios sem reversão entre Viana e os arcos e vice versa”.

Não dispomos de qualquer elemento que permita documentar os verdadeiros motivos que levaram ao abandono do projecto de construção da linha férrea do Vale do Lima, havendo quem aponte contudo o facto do traçado previsto passar mesmo defronte da fachada do Paço de Bertiandos, aliás à reduzida distância, facto que poderá ter estado na origem das sucessivas alterações do projecto quanto à escolha do local de atravessamento do rio Lima. O facto é que, apesar do começo das obras, o projecto foi definitivamente abandonado devendo o material circulante ter sido vendido, quem sabe para outra linha-férrea entretanto construída no norte do país. Mais recentemente, ironizava o director do jornal “Notícias da Barca” em caixa alta: “não deixa de ser importante, por isso, nos dias de hoje, apesar das vias de comunicação abrirem a toda a velocidade, mas no Vale do Lima, tudo vai emperrando, como o IC28, que demora a chegar ao Lindoso! Há cem anos o caminho de ferro já era notícia e nunca mais chegou!”.

Com o decorrer dos tempos, alguns troços do leito construído para a projectada linha-férrea passaram progressivamente a serem utilizados por moradores locais como caminhos públicos e serventias particulares, dando por vezes origem a processos litigiosos resolvidos judicialmente, como sucedeu nomeadamente na freguesia de Santa Marta de Portuzelo, sobre o qual o próprio Supremo Tribunal de Justiça teve de emitir um acórdão para resolver uma disputada de vizinhos sobre a posse de um carreiro no lugar da Barrosa. Noutras paragens e consoante as circunstâncias, foram encontradas utilidades diversas, como sucedeu no troço de treze quilómetros entre Valença e Monção que havia sido desactivado em 1990 onde aquele percurso deu lugar a uma ecopista com fins ambientais e turísticos e zona de lazer à disposição de peões, ciclistas e patinadores. A propósito, quando em 2004 foi inaugurada naquele local a chamada “Ecopista do Rio Minho” numa cerimónia que contou nomeadamente com a presença do Secretário de Estado dos Transportes e Comunicações e do Presidente do Conselho de Administração da REFER, o Presidente da Região de Turismo do Alto Minho, Dr. Francisco Sampaio afirmou o seguinte: “O caminho-de-ferro, quando não é viável, passa a vapor como no Douro. Tentámos fazer isso aqui, mas a CP via mal a gestão da linha nas mãos do turismo. Como não houve hipótese, acho a ecovia um belíssimo aproveitamento”.

No caso concreto do Vale do Lima não foi encontrada qualquer solução com vista a uma utilização lúdica do leito construído que estava destinado à circulação ferroviária. Contudo, a fisionomia da região em termos de vias de comunicação tem vindo a alterar-se de uma forma notável. Mas, do comboio que nunca chegou a apitar em Ponte de Lima fica o registo histórico de um projecto que deixou algumas marcas indeléveis ao longo da ribeira Lima.

O “Americano” de Barcelos a Ponte de Lima

Em 1874, curiosamente no mesmo ano em que foi concedida a primeira licença para a construção da linha-férrea do Vale do Lima, dois “negociantes” portuenses apresentaram à Câmara Municipal de Barcelos um pedido de autorização para criar naquela vila um “caminho de ferro americano” com ligação a Ponte de Lima, através da estrada municipal que passa pelas Caldas de Lijó. Muito provavelmente, os requerentes mais não pretendiam do que impressionar os responsáveis municipais com o fim de posteriormente obter autorização para explorar as águas termais das freguesias de Galegos e Lijó, uma vez que não voltaram a demonstrar qualquer interesse pela iniciativa e, contudo, menos de dois meses após o pedido feito, apresentaram novo requerimento a solicitar a concessão das termas. Em todo o caso, fica o registo de uma proposta que nem sequer passou do papel.

Com efeito, a acta da sessão de 2 de Março da Câmara Municipal de Barcelos assinala o seguinte: “Tiveram deferimento os requerimentos apresentados em mesa entre eles o de Miguel da Costa Faria e José Carneiro de Sampaio e Silva, da cidade do Porto e Negociantes, pedindo licença para estabelecer um caminho de ferro americano que ligue esta Vila com o Concelho de Ponte de Lima na estrada municipal que passa pelas Caldas de Lijó, bem como as ruas que lhe convenha desta Vila: e no mesmo lhe fora lançado o seguinte acórdão. – Que tomada nota da apresentação, declarem os requerentes as condições em que pretendem fazer a construção e o prazo em que se propõem começá-la”.

Os “americanos” eram carros puxados por duas ou mais parelhas de mulas, deslocando-se sobre carris e circularam em Lisboa e no Porto. Eça de Queirós, no final do seu romance Os Maias, faz-lhe uma breve referência. A designação pela qual ficou conhecido deve-se ao facto deste meio de transporte ter sido inventado nos Estados Unidos da América em 1832.

Bibliografia:

-    Colecção de Legislação relativa aos Serviços do Ministério das Obras Públicas publicada na “Revista de Obras Públicas e Minas”, Imprensa Nacional. Lisboa. 1876;

-    Jornal “O Libertador de Coura” nº 11, de 11 de Abril de 1897;

-    Colecção de Legislação de 1897 a 1899 relativa aos Serviços do Ministério das Obras Públicas publicada na “Revista de Obras Públicas e Minas”, Vol. IX – Fascículo 2º. 1898. Imprensa Nacional. Lisboa. 1899;

-    Plano da Rede Ferro-Viaria ao Norte do Mondego. Ministerio das Obras Publicas, Commercio e Industria. Imprensa Nacional. Lisboa. 1899;

-    Colecção de Legislação de 1903 e 1904 relativa aos Serviços do Ministério das Obras Públicas coordenada pelo Chefe da Repartição do Pessoal da Direcção Geral de Obras Publicas e Minas, Gaspar Cândido da Graça Corrêa Fino, Vol. XI – Fascículo 1º. 1903. Imprensa Nacional. Lisboa. 1904;

    VIANA, Mário Gonçalves. Através das Províncias. No Minho. Alma Nova – Revista de Ressurgimento Nacional. Natal de 1924;

-    Plano Geral da Rede Ferroviária do Continente. Volume I. Relatório da Comissão. Ministério do Comércio e Comunicações. Imprensa Nacional. Lisboa. 1929;

-    Plano Geral da Rede Ferroviária do Continente. Volume II. Documentos Anexos. Ministério do Comércio e Comunicações. Imprensa Nacional. Lisboa. 1929;

-    BACELAR, Gualter. “Caminho de Ferro do Vale do Lima – Miragem de há cem anos!”. Notícias da Barca nº. 614, de 12 de Fevereiro de 2000. Ponte da Barca;

-    Usucapião – Conceito de terceiros. Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 29 de Janeiro de 2003;

-    COELHO, José de. “Em 1874, empresários quiseram fazer linha férrea ligeira em Barcelos”. Jornal de Barcelos, 30 de Dezembro de 2003;

     Atravessadouro. Caminho Público. Utilidade Pública. Desafectação. Ónus da Prova. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 14 de Outubro de 2004;

-    História de Portugal. Vol. XI. Edita Ediclube. Amadora. 2004;

     O autor agradece a colaboração dispensada pelo Arquivo Histórico da Direcção Geral dos Transportes Terrestres e Fluviais na pessoa da sua Directora, Drª Ilda Cristóvão e do Dr. Gilberto Gomes, sem a qual a realização deste trabalho não teria sido possível.

GOMES, Carlos. A Linha-Férrea do Vale do Lima. Anunciador das Feiras Novas. XXIV. Ponte de Lima. 2007

ASSEMBLEIA NACIONAL COMEÇOU EM 1964 A DISCUTIR A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE VILARINHO DA FURNA

Com a construção no rio Cavado da barragem de Vilarinho da Furna, inaugurada em 1972, a aldeia de Vilarinho da Furna ficou para sempre submersa nas águas da albufeira.

Em 17 de Novembro de 1964, foi apresentado à Assembleia Nacional a Proposta de Lei relativa ao “Plano Internacional de Fomento para 1965-1967”, acompanhada dos respectivos pareceres da Câmara Corporativa. Tratava-se de uma Sessão Extraordinária referente à VIII Legislatura, cujos trabalhos são descritos no Diário das Sessões nº. 151, de 18 de Novembro.

Presidia àquele órgão o Dr. Mário de Figueiredo que, iniciado o período da Ordem do Dia, colocou a referida proposta à discussão na sua generalidade, dando a palavra ao deputado Virgílio Cruz. Da sua extensa intervenção, transcrevemos a passagem na qual se refere a Vilarinho da Furna, com a promessa de que voltaremos a abordar o assunto.

“Dos aproveitamentos a realizar no triénio de 1965-1967 o projecto do Plano apenas inscreve os montantes a investir ou nas obras em execução ou naquelas cuja construção se inicia desde já. As outras que à data da preparação do Plano Intercalar não tinham ainda, os concursos autorizados ou estudos prontos ficaram para a próxima decisão.

A garantia, da continuidade do abastecimento dos consumos de electricidade no período seguinte ao triénio de 1965 - 1967 exige o início de construção de alguns deste centros produtores referidos já no decurso do Plano Intercalar, porque o estudo e construção das centrais é demorado, necessitando de prazos da ordem dos três a quatro anos para as térmicas clássicas, quatro a cinco anos para as hidroeléctricas, sete a nove anos para um primeiro grupo termonuclear e cinco a seis anos para os seguintes grupos desta nova modalidade de produção. Isto mostra, como muito bem o evidencia a Câmara Corporativa no seu parecer, a necessidade de arrancar com obras de novos centros produtores, além dos considerados prioritários, ainda no decurso do Plano Intercalar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Dos aproveitamentos inscritos no programa de construções deste Plano revelam-se aconselha-

veis (na opinião dos especialistas nesta matéria, especialistas do Grémio Nacional dos Industriais de Electricidade, do Repartidor Nacional de Cargas e do grupo de trabalho preparatório do projecto do Plano), para início de construção durante o triénio de 1965-1967, os seguintes novos centros produtores: Vilarinho das Furnas, no rio Homem, Fratel, no Tejo, Baixo Mondego, Valeira, no Douro, e outros empreendimentos.
A Câmara Corporativa considera indispensável concretizar desde já as datas de arranque de novas obras em cada um dos anos do Plano e propõe um programa de investimentos de 3,174 milhões de contos, isto é, cerca de 950 000 contos a mais em relação ao montante já inscrito no projecto do Plano Intercalar para as obras em execução ou decididas.
Damos o nosso aplauso à. Câmara Corporativa sobre a necessidade de arranque de novas obras em cada um dos anos de 1965, de 1966 e de 1967, e à necessidade de fixar datas para início das obras, mas, quanto ao esquema proposto como um dos possíveis vamos procurar melhorá-lo para cobrir os consumos permanentes com investimentos mais reduzidos no triénio e tornar o esquema mais benéfico para o interesse nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Para Vilarinho das Furnas está o projecto concluído, e, como se justifica pelas suas condições de rentabilidade, se nos princípios de 1965 lhe for dada ordem de arrancar, assegurar-se-á a continuidade de ocupação a equipamentos, quadros técnicos e mão-de-obra que tem estado a trabalhar nos estaleiros e nas várias indústrias ligadas às obras hidroeléctricas, além de permitir armazenar já a água do período húmido de 1967-1968.”

“VILARINHO DAS FURNAS” OU “VILARINHO DA FURNA”?

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Aldeia de Vilarinho da Furna – 1968

Manuel de Azevedo Antunes

            Sobre o nome de Vilarinho, aqui ficam algumas considerações.

            A primeira referência escrita a esta aldeia penso que remonta a 1540, no TOMBO DA IGREJA DE SÃO JOÃO DO CAMPO, onde a povoação é simplesmente apelidada de “Villarinho”.

            Depois, nos Arquivos Paroquiais sobre o Registo de Baptizados, Casamentos e Óbitos, da freguesia de S. João do Campo, a partir de 1623, ora aparece “Villarinho das Furnas”, ora “Villarinho da Furna”, com predominância desta última designação. Julgo que, quando o Padre era natural da aldeia ou das povoações vizinhas, escrevia “Villarinho da Furna”.

            António Carvalho da Costa, na Corografia portugueza e descipçam topografica do famoso reyno de Portugal, de 1706‑1712, menciona “V. de Furnas”.

            O Padre José de Matos Ferreira, no Thesouro de Braga descuberto no Campo do Gerez, de 1728, refere apenas “Vilarinho”.

            Na “Noticia da freguesia de S. João do Campo que mandou o dr. Vigário Geral aos 9 de Junho de 1736”, bem como nas Memórias Paroquiais de 1758, fala-se de “Vilarinho de Furnas”.

            Jerónimo Contador de Argote, em Memórias para a História Eclesiástica do Arcebispo de Braga, de 1737-1747, refere “Villarinho”.

            Já o alemão Link, no seu Voyage en Portugal depuis 1797 jusq’en 1799, de 1803, menciona “Villarinha do Furno”.

            O Príncipe Regente, que veio a ser D. João VI, no alvará de criação da Real Fábrica de Vidros, de 1807, escreve “Villarinho da Furna”.

            Na “Escritura de contrato e união...”, de 1841, aparece “Vilarinho da Furna”.

            Pinho Leal, no Portugal Antigo e   Moderno, de 1874-1890, fala de “Villarinho das Furnas” e de “Vilarinho da Furna”.

            O Padre Martins Capela, em Milliarios do Conventus Bracaraugustanus em Portugal, de 1895, escreve “Villarinho da Furna”.

            Na escritura de aforamento de 1895, com a Câmara Municipal de Terras de Bouro, e no registo predial de 1923, na Conservatória de Amares, com transcrição mais recente na Conservatória do Registo Predial de Terras de Bouro, aparece sempre “Vilarinho da Furna”.

            Tude de Sousa, também utiliza “Villarinho da Furna”, como se pode ler em Serra do Gerez, de 1909.

            Jorge Dias, em vários dos seus estudos, nomeadamente em Vilarinho da Furna –  Uma Aldeia Comunitária, de 1948, bem como todos os investigadores da sua equipa, refere sempre “Vilarinho da Furna”.

            Inspirado na referida obra de Jorge Dias, Manoel de Oliveira projecta, por 1950, fazer o documentário Vilarinho da Furna que, ao que parece, não chegou a ser realizado, por falta de apoio financeiro.

            Também Jaime Cortesão, em Portugal, a Terra e o Homem, nas edições de 1966 e outras, escreve “Vilarinho da Furna”.

            O mesmo faz Miguel Torga, em vários dos seus escritos, nomeadamente no Diário, bem como A. Lopes de Oliveira, em Terras de Bouro, e Armando de Castro em Estudos da História Sócio-Económica de Portugal, de 1972,

            Já Domingos M. da Silva, em Entre Homem e CávadoAmares e Terras de Bouro, de 1958, escreve “Vilarinho das Furnas” e “Vilarinho da Furna”.

            Também nas sentenças do Tribunal de Vila Verde, de 1962, de 1969 e de 1995, se lê “Vilarinho da Furna”.

            Hugo Rocha, escreve um dos seus artigos, no Comércio do Porto, em 1969, com o título “Vilarinho da Furna: uma das últimas povoações comunitárias de Portugal que não tardará muito a desaparecer”.

            João Rosado Correia, intitula a sua dissertação de licenciatura, Vilarinho da Furna – Paisagem em Transformação, em 1971. De modo semelhante acontece com José Rodrigues Martins, no artigo “Vilarinho da Furna”, de 1972, e com Lucinda Coutinho Duarte, Luísa Teixeira e Mafalda Santos, na dissertação sobre Aldeias Submersas em Consequência da Construção de Barragens: * Vilarinho da Furna (1971) * Aldeia da Luz, Alentejo (2002), de 2003, que tive oportunidade de orientar.

            Mas Gladys Novaes, também em trabalho académico de licenciatura, em 1973, escreve “Vilarinho das Furnas”, penso que por influência das Memórias Paroquiais da freguesia de S. João do Campo, que transcreve.

            João Amorim Machado Cruz, em vários dos seus estudos, escreve sempre “Vilarinho da Furna”, como em Consanguinidade aparente da população de Vilarinho da Furna, de 1973.

            O mesmo acontece com Joanna Korfage, no seu trabalho académico, na Holanda, em 1993, VROEGER EN LATER - Over de ervaringen van de vroegere bewoners van het verdwenen communale dorp Vilarinho da Furna (ANTES e DEPOIS – Sobre as experiências dos antigos habitantes da aldeia comunitária de Vilarinho da Furna), e com Delmira Calado, em Vilarinho da Furna: a Memória, de 1999.

            Também Francisco Duarte Mangas, na novela Diário de Link, de 1993, fala de “Vilarinho da Furna”, embora, em nota final, assinale que há quem diga “Vilarinho das Furnas”.

            Eu próprio utilizo sempre a designação “Vilarinho da Furna”. Apesar de alguns revisores de provas já me terem procurado corrigir para “Vilarinho das Furnas”.

            Nas Cartas Topográficas e nos textos da HICA/CPE/EDP, escreve-se “Vilarinho das Furnas”, designação que se vulgarizou após a construção da barragem. O que terá influenciado o título do filme de António Campos, Vilarinho das Furnas, de 1971.        Como vemos pelos autores referidos, a que se poderia acrescentar muitos outros, as duas designações têm sido usadas na referência à mesma aldeia.

            Penso que a designação “das Furnas” provém de um local, sito na serra Amarela, com várias cavidades rochosas, próximo da nascente do Rio de Furnas, assinalado nas Cartas Topográficas, que passa pelo meio do povoado antes de se juntar com o Rio Homem.

            No entanto, em todos os documentos oficiais e jurídicos, com excepção do decreto de 1904, feito por inspiração e em benefício dos Serviços Florestais, a expressão utilizada é “Vilarinho da Furna”, com esta ou outra grafia equivalente. Era também assim que a gente da aldeia e das povoações vizinhas lhe chamavam, bem como todos os literatos e investigadores que mais aprofundadamente a estudaram. 

            Furna (do latim furnus – forno), significa grande cavidade, caverna, gruta, cova. A aldeia de Vilarinho ficava efectivamente numa grande cova, delimitada pelas serras da Amarela e do Gerês, o que fazia dela, no dizer de Orlando Ribeiro, “uma ilha da Ribeira no oceano revolto das agrestes montanhas graníticas”.

Por isso, como costumo dizer, já que nos tiraram a terra, deixem-nos ficar o nome: “VILARINHO DA FURNA”.

(Extracto de: Manuel de Azevedo Antunes, Vilarinho da Furna - Memórias do passado e do futuro, 2.ª Ed., CEPAD/ULHT, Lisboa, 2005, pp. 200-205).

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Aldeia fantasma de Vilarinho da Furna – 1998. Fotos: Manuel de Azevedo Antunes

BARCELOS DESFILA EM BRAGA POR OCASIÃO DO 1º CONGRESSO DE ETNOGRAFIA E FOLCLORE

O postal que reproduzimos é uma edição da C.P.Loty e apresenta o desfile de um grupo folclórico nas ruas da cidade de Braga por ocasião do 1º Congresso de Etnografia e Folclore que ali teve lugar em 1956, em relação ao qual já nos referimos em artigo anterior que pode ser lido em http://bloguedominho.blogs.sapo.pt/100502.html

ARCOS DE VALDEVEZ É TERRA LINDA DE MAIS PARA QUE SE POSSA VIVER LONGE DELA!

Perdem-se nos tempos as origens das terras de Valdevez. As suas veigas férteis, ao longo do rio Vez, registam a fixação do Homem desde os finais do quinto milénio antes da Era Cristã, presença documentada através de numerosos vestígios arqueológicos como se verifica com as mamoas e antas e ainda as representações ruprestes existentes na estação arqueológica do Gião. De resto, os castros de Azere, Alvora e Cendufe constituíram povoados defensivos das gentes arcuenses do período pré-romano.

A organização eclesiástica durante a Idade Média associada às características geográficas do território determinou a organização das paróquias na qual assenta a actual estrutura administrativa. A reforma implementada por Mouzinho da Silveira veio a acrescentar-lhe as povoações do Soajo, Ermelo e Gavieira, traçando-se os limites do Concelho de Arcos de Valdevez tal como actualmente os conhecemos.

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Escreveu o escritor arcuense Carlos Cunha a respeito de Arcos de Valdevez: “De qualquer lado que tente fotografar a paisagem da minha terra – tão variada e fluida na fluida mobilidade dos seus aspectos – sempre as mesmas imagens respondem ao apelo do mesmo aceno. Saio a porta – para sempre fechada – da casa de meus pais e vou seguindo a margem do rio, que se arroja, numa facada límpida, sobre a vila.

- Deus Nosso Senhor lhe dê muito bom dia!

De preto, escorrendo as ancas, a mulher vai andando para o mercado. Leva um cesto á cabeça; e da toalha muito branca rompe, como uma for vermelha, a crista alta de um galo. Ao chegar ao Ribeirinho – franja de casas estendida a todo o correr da estrada – paro. E fico a olhar o regato, que, embebido de sol, é um fio de sol entre salgueiros. Até que ali para cima uma janela se abre e a magia de uns olhos, que são toda a minha luz, vem dizer-me que a vida começou.

Crianças, de pés descalços e narizes calafetados de ranho, brincam ao longo da estrada. Um melro rasou o asfalto tintinando o seu guizo doido. Imóveis, os pinheiros da Contada parecem esculpidos em bronze; e mais para além, azulado de névoa e de distância, o Paço da Giela é quase uma aparição.

É dali que a certas horas o passado desce até ao burgo, se revê no pelourinho da praça – bem bonito, este dorso petrificado de angústia! –, erra entre as duas igrejas que, a distância, lembram castelos do Reno, e, depois de ter bebido em Salzedas uma água das origens, vai esmoer, nos dentes cariados das ameias, o seu protesto sem voz contra a digestiva incúria que mantém, atulhada de cacos e de lixo, a capelinha românica da vila.

Nas meias tardes de domingo, quando os sinos de S. paio e Salvador parecem carpir uma hecatombe, os namorados vão lá para os fins do campo apertar na carne aflita um pouco daquela primavera que vem das tílias. E, irrequieto, o binóculo das damas da outra banda espia o tempo perdido… Mas é sobretudo nas romarias, quase todas as noites de sábado, anunciadas por coloridas deiscências de fogo, que o povo da vila e aldeias abre uma válvula pagã aos quotidianos recalques de uma existência de penas. Ao resfolgar do harmónio, velhos e moços entram na dança; e no contido e súplice esvoaçar das mãos, nos movimentos das ancas e dos braços, há toda a plasmação de um rito em que não +e difícil surpreender gestos de redes ou sementes, ou cadências de remos sobre as ondas. O minhoto dança a paisagem. E seja na Senhora da Peneda – áspero e rugosos santuário da montanha – ou nessa varanda aberta sobre os longes, que é o monte do Castelo, ali a dois passos da vila, seja numa simples rifa ou descante, o que ele, ébrio de mosto e poeira, acima de tudo persegue, é uma fuga dionisíaca da vida.

Miguel Torga, na ácida ruminação de uma ironia em que o horror do verde não é apenas excesso de clorofila, acha que o Minho é bovino. Talvez. Mas ironias como esta são sempre uma mutilação: pede-se um retrato e sai uma caricatura. Pois a verdade é que, no rápido caleidoscópio dos seus aspectos, o Minho polariza em si o que de melhor contém as outras províncias portuguesas. E não é preciso ir mais longe. Em Arcos de Valdevez ou em Melgaço, à medida em que os cerros vão fugindo com as casas pela encosta acima, a virgiliana doçura das vertentes e dos vales vai perdendo a feminil dormência na ossatura plutónica dos montes. E Soajo ou Castro Laboreiro surgem aos nossos olhos como duas aldeias transmontanas.

Mas a desgraça não é essa. A desgraça é que nós somos as raízes da terra onde nascemos. E a nossa é linda de mais para que se possa viver longe dela. Onde quer que os passos nos conduzam, sempre a sua imagem nos persegue como uma obsessão – ou uma bênção… E é quando estamos para deixá-la que de todo nos rendemos ao aceno telúrico desse chão que nos faz voltar para trás a proa da quimera que nos trouxe. Nesses dias, gostamos de uma maneira diferente, até das árvores e dos bichos. Lembro-me de meu irmão Alberto abraçado ao tronco da velha macieira da quinta: – “Adeus, macieira das doces!...”

E compreendo a razão por que, oito meses após a minha chegada ao Rio, todas as manhãs acordo pensando no “Desterrado” do nosso Soares dos Reis.”

- in revista “Padrão”

(Fotos cedidas por Mena Duarte)

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MUSEU DO TRAJE DE VIANA DO CASTELO: O MUSEU COMO FORMA DE CONHECER O TERRITÓRIO CONCELHIO

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Museu Agro Marítimo de Carreço. Visita de professores das escolas do concelho, vendo-se as fotografias de António Silva, dos anos 1950-60.

Dr. João Alpuim Botelho

Director do Museu do Traje de Viana do Castelo

O Museu do Traje tem por missão cumprir as funções museológicas de recolher, preservar, estudar/produzir informação e comunicar/divulgar que estão consignadas na Lei Quadros dos museus, aplicadas ao seu objecto de estudo: os modos de vida tradicional e a identidade cultural alto minhota. Sendo o traje popular rural feminino, usado nas aldeias em redor da cidade de Viana do Castelo, habitualmente conhecido como “Traje à Vianesa” ou “à Lavradeira” o elemento mais conhecido e celebrado da etnografia minhota, foi o motivo para a atribuição do nome a este Museu.

Por Traje à vianesa entendemos o  O Traje usado pelas raparigas das aldeias ao redor de Viana do Castelo até meados do século XX, conhecido como traje à vianesa ou à lavradeira, tem um ousado colorido e uma enorme profusão de elementos decorativos que lhe conferem um aspecto exuberante. Estas características tornam-no único no panorama da indumentária popular em Portugal, sendo facilmente reconhecido e identificado com a região de origem.

Esta foi a principal razão de o Traje se transformar num símbolo da identidade local.

O primeiro impacto do traje é de espanto pela sua beleza, mas não podemos esquecer que está integrado num contexto sócio cultural em que faz sentido: uma economia próxima da auto suficiência, que recorria a trabalhos recíprocos, colectivos e gratuitos, com uma forte carga lúdica e de sociabilidade integrada.

Este contexto é uma chave fundamental para compreendermos este traje e o relacionarmos com o seu ambiente: muitas vezes a mesma rapariga que cultivou o linho (e criou as ovelhas que deram a lã), foi quem o fiou e teceu e depois executou as peças de roupa que tingiu e decorou com bordados e outras aplicações. E não seria raro que fosse essa mesma rapariga a usar o traje, adaptando-o aos ritmos e momentos da vida rural de trabalho quotidiano, dos momentos de descanso, nomeadamente o dominical, e de festa, onde a rapariga se mostra orgulhosamente no seu esplendor.

Foi neste contexto que o traje evoluiu e desenvolveu as características que o individualizam e é por esta razão que é entendido como um espelho de um modo de vida tradicional e da identidade alto minhota.

O traje é o mais relevante e reconhecido elemento da cultura alto minhota, por isso a designação de Museu do Traje homenageia-o como símbolo de identidade, mas não esquece todo o seu enquadramento sócio cultural na vida rural tradicional, bem como a sua projecção nos nossos dias e as pistas que permitem pensar o seu futuro.

O Museu assume assim um papel que é tanto mais importante quanto o Traje é a verdadeira imagem institucional da cidade e está sempre presente na sua divulgação e da região e, naturalmente, não é possível nos nossos dias, encontrá-lo no seu “ambiente natural” (excepto em situações especiais, como festas, romarias e festivais de folclore).

Este é um Museu jovem, criado em 1997, mas que atingiu a sua maioridade em 2004, quando foi certificado pela Rede Portuguesa de Museus.

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Museu Agro Marítimo de Carreço. Recriação de uma cozinha tradicional, realizada por Amadeu Costa, em 1985.

O Museu e o Território Desenvolvimento de um discurso museológico

O Museu encara o Traje como uma janela para a região, para o estudo e a compreensão dos seus modos de vida tradicionais, constituindo-se como um “vasto álbum da região” para usar a expressão de Abel Viana usou num artigo no jornal Notícias de Viana em 18 de Agosto de 1930, reforçando uma ideia que Cláudio Basto escrevera dois anos antes: “ [O Museu deveria ter um programa] verdadeiramente regional [onde] se reflectisse, deliciosamente, a história, a actividade a vida do povo desta laboriosa, colorida e poética região” (1928: 158).

Mas a etnografia e a identidade de uma região não se resumem a uma forma de vestir, por muito especial que seja. Assim, numa altura em que se falava na necessidade de criação do museu, Benjamim Pereira referiu-se ao assunto, afastando-se de formas estreitas e folcloristas de encarar o papel do Museu, retomando e actualizando a herança de Cláudio Basto: “ [Cláudio Basto no seu livro “Traje à vianesa”] liberta-se de uma visão particularista e folclorística e considera o traje como um elemento a integrar num complexo mais amplo, isto é, coloca-se numa perspectiva cultural de conteúdo etnológico.

Seduzidos certamente pela beleza do traje festivo e cerimonial desta região, várias pessoas têm animado um movimento em torno da criação, hoje ainda, de um Museu do Traje Regional. Parece-nos porém que um tal projecto não deve ser viabilizado, dadas as extremas limitações que encerra. Qualquer discurso museológico ou acções culturais a desenvolver numa instituição deste género, ficam condicionadas à manipulação dum único elemento, descontextualizado e, consequentemente, redutor e inexpressivo. A verdadeira personalidade e significado do traje só se alcança através da sua projecção integradora na cultura geral da região. Considerá-lo independentemente dessas coordenadas é correr o risco de não compreender toda a riqueza dos seus significados.” (1989: 11).

É aqui frisada uma ideia que o autor já antes apresentara, num texto significativamente intitulado “Para a defesa e valorização do património etno-museológico do Alto Minho”: “Nunca entendemos as motivações que levaram à defesa da criação em Viana do Castelo de um Museu do Trajo Regional. O trajo faz parte desse complexo global e por isso ele ganhará certamente muito maior sentido quando contextualizado e enquadrado em conjunto com os demais elementos. O traje especifico desta região feito em grande medida nos teares caseiros e modelado por sistema acentuadamente autárcico, não deve ser reduzido ao paradigma do trajo à vianesa ou trajo à lavradeira, embora seja seguramente um dos expoentes mais altos do traje tradicional português. Sem dúvida esse trajo festivo regala, nas diferentes cambiantes locais, uma estética seguríssima e esplendorosa. Mas é bom não esquecer, no extremo oposto, as formas arcaicas de branqueta, dos sargaceiros do Litoral, entre os rios Lima e Ave, feita de burel branco, que sugere o saio romano, ou a capucha de serra nortenha, de burel castanho, semelhante ao cucullus igualmente dos romanos; e entre esses pólos extremos, uma variada gama de trajos, funcionalmente bem caracterizados” (1987: 48).

Para isto propunha o modelo de Museu ao Ar Livre, onde poderiam ser preservados os testemunhos materiais no seu local de origem “segundo métodos científicos, muito estritos, todo esse corpus material da cultura, na multiplicidade das suas formas e funções e na totalidade dos seus aspectos mais significantes. (…)

Este projecto poderia desenvolver-se em duas vertentes: uma unidade central – o verdadeiro núcleo, um Museu Regional – visando representar a cultura da região numa perspectiva globalizante e integrativa percorrida pelas diferentes matizes (…) a que se juntam unidades temáticas expressivas, avulsas, mantidas no seu contexto ecológico” (idem: 46,48), propondo as seguintes unidades temáticas: I. Arquitectura; II. Tecnologia tradicional (Sistemas de moagem, serrações hidráulicas, lagares de azeite; engenhos de linho); III. Actividades agro-marítimas; IV. Tecnologia agrícola; V. Actividades artesanais.

O modelo proposto é diferente do de Museu ao Ar Livre desenvolvido nos países nórdicos, onde se criaram parques para onde se deslocou o corpus material de cultura, reconstruindo ambientes, casas e outros elementos, que assim ficavam reunidos num espaço controlado e visitável com facilidade. Esta solução tem uma diferença essencial, uma vez que procura “valorizar e manter in loco esse património” (idem, p.48), não promovendo a deslocação do património, mas promovendo a sua manutenção no local de origem.

Desta forma o que se perde na facilidade da visita, ganha-se na riqueza do contexto e na genuinidade do ambiente, promovendo ainda o património como parceiro de desenvolvimento local.

São longas as citações mas justificam-se porque ilustram as linhas orientadoras do percurso feito para libertar o Museu do seu edifício (com uma arquitectura tão marcada, com um espaço limitado, instalado no local mais central de uma cidade) para partir se aproximar do seu território de actuação.

A intenção de dar um cariz etnográfico, que, na linha do que atrás vimos, fizesse o enquadramento do Traje à Vianesa, desde o início visto como o principal motivo do museu,

A fórmula encontrada e assumida como instrumento de política cultural municipal foi a de criar núcleos, desenvolvendo assim um Museu Polinucleado, com uma estrutura territorialmente descentralizada, que adopta variadas formas de protecção e comunicação patrimoniais.

Desta forma o Museu aproxima-se do modelo “Um Museu constituído por uma sede e por uma ou mais extensões museológicas correspondentes a núcleos ou pólos estabelecidos em locais fisicamente autónomos da sede, com características patrimoniais, colecções e actividade diversas, mas com uma ligação institucional e orgânica de dependência do núcleo-sede” (Clara Camacho), acrescentando que este conceito não é identificável com um Museu de pequena dimensão

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Museu Agro Marítimo de Carreço. Visita de professores das escolas do concelho

Os Núcleos Museológicos como forma de política cultural integrada.

Foi portanto com esta base que o Museu do Traje desenvolveu um conjunto de recuperação de elementos patrimoniais in-situ, como forma de melhor conhecer e comunicar os modos de vida tradicionais que lhe estão subjacentes.

Estes núcleos nasceram sempre de um encontro de vontades entre uma instituição local (Junta de Freguesia, Associação Cultural, Rancho Folclórico ou outra) que, pretendendo recuperar ou valorizar um elemento patrimonial, recorreu ao apoio – financeiro e técnico - da Câmara Municipal.

A prestação deste apoio, ao assumir a forma de constituição de um núcleo museológico, pode ser integrada na política cultural municipal (em vez de se esvair em pequenos apoios soltos e inconsequentes), até porque a criação do núcleo museológico implica uma co-responsabilização que garante a continuidade no tempo do investimento.

É importante notar que cada um destes protocolos define uma relação específica, não havendo uma matriz única. Desta forma é possível negociar em cada caso concreto as condições e os objectivos de cada núcleo. 

Moinhos de Água da Montaria

Respondendo a uma proposta da Associação Cultural, Desportiva e Recreativa Montariense, este projecto promoveu a inventariação dos 42 moinhos existentesem São Lourençoda Montaria, promovendo a recuperação de 14.

Nesta freguesia serrana os moinhos são da tipologia rodízio simples e têm um sistema de propriedade partilhada por “herdeiros”, ou seja, a propriedade, não sendo comunitária, é de várias famílias.

Depois da recuperação, a posse dos moinhos manteve-se com o seu donos originais, sem outra obrigação que uma declaração de intenções de serem usados e de permitir visitas aos interessados.

Graças a este regime de propriedade, a recuperação destes moinhos abrange cerca de 80% da população da freguesia.

Este núcleo permite visitar os moinhos através de percursos pedestres que atravessam diversas paisagens que esta zona da Serra d’Arga tem para oferecer, surpreendendo os trabalhos agrícolas de acordo com a época do ano.

Em 2010 foi inaugurada a sede do Núcleo, no largo da Igreja da Montaria, que serve de ponto de partida para a realização de outros estudos e eventos.

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Moinhos de água da Montaria. A senhora Etelvina a moer no Moinho de Baixo (Costa)

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Moinhos de água da Montaria. Moinhos da Costa

Moinhos de Vento de Montedor (Carreço)

Este núcleo foi criado como forma de enquadrar a recuperação de um moinho de vento de velas trapezoidais de madeira, que foi o último em funcionamento em Portugal.

Acompanhando esta recuperação foi criado, no edifício de um outro moinho (de velas de pano), um centro de interpretação com informações sobre os moinhos e a região.

Também neste caso foram preparados percursos ambientais e patrimoniais que percorrem os mais significativos espaços naturais da freguesia.

Neste caso a entidade local foi o Grupo Folclórico Danças e Cantares de Carreço que se responsabiliza pelas visitas e animação do espaço, uma vez que, com marcação, podem ainda ser provados produtos locais e assistir a uma actuação folclórica. 

Museu do Pão de Outeiro

Situado numa escola primária desactivada, adquirida pela Junta de Freguesia, este núcleo expõe o resultado de uma recolha de todas as alfaias agrícolas do ciclo do milho e do pão, desde o preparar de terra, semear e colher, aos trabalhos na eira de limpeza e armazenamento do cereal.

No núcleo foi montado um forno de lenha onde, por marcação, é cozida broa, que se pode provar acompanhando o mel produzido nas encostas destas serras.

Este núcleo inclui uma azenha “copeira” em funcionamento.

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Museu do Pão de Outeiro. O senhor José a fazer o bolo para uma visita escolar

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Museu do Pão de Outeiro. Azenha copeira do Maral, onde o milho é moído para fazer a broa.

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Museu do Pão de Outeiro. Dona Lurdes a fazer uma visita guiada a uma escola 

Museu Agro-Marítimo de Carreço

Quando em 1985 foi construída a nova sede da Junta de Freguesia, uma das salas foi pensada para receber exposições, onde Amadeu Costa fez a recriação de ambientes tradicionais: a sala, o quarto e a cozinha.

Na altura foi feita uma exposição fruto de uma recolha de peças, que nunca foi desfeita, mas também não teve nunca o necessário tratamento museológico, pelo que se foi transformando num armazém desarrumado e, como tal, estava encerrada ao público.

Com este espólio foi possível criar um discurso expositivo sobre as tradições de cultivo da terra que, nesta freguesia, estão intimamente ligadas às actividades marítimas, como a apanha do sargaço, a pesca e a recolecção de moluscos. Este núcleo foi organizado com o apoio de Benjamim Pereira, natural de Carreço e profundo conhecedor da sua terra

Foi ainda possível recuperar e apresentar uma colecção de fotografias dos anos 1950 e 60, da autoria do carrecense António Silva.

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Moinhos de Vento de Montedor – Carreço. Senhor Eugénio Laginha a mostrar aos alunos a farinha, dentro do moinho do Marinheiro

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Moinhos de Vento de Montedor – Carreço. Senhor Eugénio a montar as pás de madeira nas velas do moinho.

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Moinhos de Vento de Montedor – Carreço. Moinho com as velas montadas

Museu do Sargaço de Castelo de Neiva

A tradição da apanha de sargaço (algas marinhas) para fertilizar o solo foi uma actividade tradicional fundamental para a agricultura das terras junto ao mar.

Apesar de essa prática hoje ter caído em desuso, ficaram os saberes, os artefactos e os trajes (a branqueta) a lembrar esses tempos, e que são mostrados neste núcleo.

Mas este espaço aborda também as enormes potencialidades das algas das nossas costas, com aplicações na medicina, na cosmética e também na gastronomia. O facto de grande parte destas algas ser comestível – e saborosas, além de muito saudáveis - faz com que integre já as ementas de vários restaurantes, dando um especial sabor aos mais requintados pratos.

Este núcleo foi feito em colaboração com a Junta de Freguesia de Castelo de Neiva e com os dois grupos folclóricos locais: o GRECANE e o Grupo Etnográfico.

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Museu do Sargaço – Castelo de Neiva. Uma das últimas sargaceiras a usar o redanho na colheita de algas (foto de 2001)

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Palheiros de sargaço, da Senhora Céu Arezes

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Museu do Sargaço – Castelo de Neiva. Interior do museu, com uma jangada e um palheiro de algas

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Museu do Sargaço – Castelo de Neiva. Interior do Museu, com um palheiro de algas e a branqueta.

Actividades dos núcleos:

A preparação de cada um destes núcleos foi objecto de um estudo que foi editado sob a forma de brochuras de divulgação.

A existência dos núcleos permitiu ainda a realização de vários artigos em revistas e apresentação em conferências e em diversas aulas em universidades (Porto, Minho e Politécnico de Viana).

Foi ainda graças ao conhecimento do terreno facultado pelos núcleos que se realizaram três vídeos documentais:

“O Fole” (Carlos Viana – Ao Norte Áudio Visuais),em São Lourençoda Montaria, sobre a confecção do saco de pele de cabrito com que o milho era transportado para o moinho, recuperando este saber já em desaparecimento;

“Milho à Terra” (Carlos Viana – Ao Norte Áudio Visuais) em Outeiro, acompanhando o ciclo anual dos trabalho do milho, usando a última parelha de bois de trabalho da freguesia de Outeiro;  

“O Ciclo do Linho. Da sementeira à espadelagem” sobre a produção artesanal desta planta e sua transformação em têxtil (imagem: Foto Joca; montagem Pedro Duarte; consultor de montagem e textos Benjamim Pereira; Pós Produção: Laranja Azul) também em Outeiro.

Criação e marcação de 10 percursos temáticos nas freguesias;

Recuperação de 15 moinhos de água e um de vento;

Duas campanhas de recolha de peças, resultando em centenas de objectos.

Recuperação e divulgação de um espólio fotográfico com cerca de 50 anos sobre Carreço, de António Silva

Criação de sabonetes de sargaço, com algas apanhadas pela senhora Maria Emília Arezes.

Desenvolvimento de workshops, show-cookings e provas de algas e gastronomia, nomeadamente com o professor Leonel Pereira (Departamento de Biologia da Univ. Coimbra), O chef Rui Paula, e a participação com o restaurante O Augusto, na Conferência Internacional de Vida Marinha, organizada no Jardim Zoológico de Lisboa.

Em cerca de 10 anos estes núcleos foram visitados por mais de 50 mil pessoas, na sua grande maioria escolares, que assim tomaram conhecimento in loco com as actividades e tecnologias agrícolas tradicionais, mas também muitos turistas foram atraídos pela possibilidade de participar nas experiências genuínas e únicas que os Núcleos Museológicos proporcionam.

Conclusão

A rede de cinco núcleos museológicos do Museu do Traje abrange quatro freguesias e conta com parcerias efectuadas com três Juntas de Freguesia, uma Associação Cultural e três Rancho Folclórico, ocupando uma escola primária desactivada, vários moinhos de vento e água, duas sedes de Junta.

Não tendo uma geometria fixa, a rede de núcleos tem a vantagem de se poder continuar a expandir com outras parcerias, pensadas especialmente para cada caso, que alargarão a área geográfica e temática da actuação do Museu.

Esta forma de intervenção permite uma aproximação ao território, promovendo um melhor estudo, conhecimento e divulgação da etnografia local.

Esta rede de núcleos dedicados à Etnografia complementa-se com outra dedicada à Arqueologia, ligada ao Museu de Arte e Arqueologia / Gabinete de Arqueologia, que pode ser visitada em Viana (Casa dos Nichos e Capela das Almas), Geraz do Lima (Igreja) e Castelo de Neiva.

É, portanto, uma forma de exercício de uma política cultural municipal consequente, que envolve e co-responsabiliza a população local na defesa do se património, promovendo a sua auto estima e contribuindo para o seu desenvolvimento.

O MINHO NA INTERNET: PONTE DE LIMA ESTÁ NA DESPORTIVA!

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“Desporto em Ponte de Lima” é o blog de referência do desporto limiano. Através dele, pode o leitor acompanhar os jogos, os resultados e de uma maneira geral toda a actividade desportiva relacionada com Ponte de Lima nas suas mais diversas modalidades.

O blog “Desporto em Ponte de Lima” segue a par e passo, desde 2009, tudo quanto se passa nesta área, encontrando-se no endereço http://desportopontedelima.blogspot.com/. É caso para dizer que Ponte de Lima está na desportiva!

AS ORIGENS NÓRDICAS DO PAI NATAL

Odin, rei do Asgard na mitologia nórdica, é para os povos escandinavos o mesmo que Zeus e Júpiter foi respectivamente para os gregos e os romanos. Odin, ou Woden, quando não habita o seu palácio dourado, o Gladsheim, encontra-se no Valhala que é o "salão dos mortos", entre os heróis e onde pontificam as formosas valquírias a quem compete manter permanentemente cheios os vasos de bebida que são feitos de chifre. É ainda às valquírias que compete eleger os heróis e decidir a sua sorte no campo de batalha, quem haverá de morrer e, finalmente, conduzir os bravos ao Valhala. "Val" significa morto.

Por seu turno, Odin possui como companheiros inseparáveis dois corvos - Hugin e Munin - que representam respectivamente o Pensamento e a Memória, os quais voam diariamente através do mundo para lhe levarem as notícias acerca dos actos cometidos pelos humanos. Uma vez convenientemente informado pelos seus corvos, Odin parte num trenó puxado por renas levando consigo presentes com que irá recompensar as boas acções praticadas ao longo do ano. Eis o mito que verdadeiramente se encontra na origem da fabulosa crença do "Pai Natal", séculos mais tarde adaptado pela Igreja Católica a uma versão mais cristianizada com a substituição de Odin por um corpulento bispo que distribuía presentes - São Nicolau. Em qualquer dos casos, enxertos realizados nas tradições do nosso povo que durante séculos apenas conheceu a veneração ao "menino Jesus".

 GOMES, Carlos. http://www.folclore-online.com/

Natale Solis Invicti ou o Solistício do Inverno

Todo o mundo cristão celebra por esta altura o nascimento de Jesus, não obstante desconhecerem-se quaisquer referências históricas ou bíblicas que mencionem a data em que tal acontecimento se verificou. Por conseguinte, o Natal é festejado a 25 de Dezembro ou a 7 de Janeiro de acordo com as tradições católica ou ortodoxa, em virtude da adopção dos calendários juliano ou gregoriano. Ora, é nesta ocasião que ocorre o solstício do inverno ou nascimento do sol, precisamente a altura em que os raios solares deixam de decrescer e passam de a aumentar, fazendo de novo crescer os dias em relação às noites.

Desde a mais remota antiguidade que o ser humano adorou o sol, deusificando-o e atribuindo-lhe a primazia sobre as demais divindades. Tal sucedeu na Caldeia, na Palestina e no Egipto, aqui adorado sob o nome de Ra. Na antiga Pérsia e na Índia, o deus Sol era designado por Mitra tendo o seu culto dado origem ao mitraísmo que viria mais tarde a rivalizar com o cristianismo a sua influência no Império romano, acabando por vir a sucumbir com a sua queda e mais tarde acabando por desaparecer por completo com o avanço do islamismo na Pérsia. Antes, porém, o mitraísmo fora assimilado pelos gregos e espalhou-se por todo o Império romano. O deus Mitra era geralmente representado por um jovem com um boné frígio, túnica e manto sobre o ombro esquerdo. Esta religião era superiormente dirigida por um sumo pontífice a os seus sacerdotes ostentavam sobre a cabeça uma mitra. Curiosamente, trata-se do chapéu com que os bispos se apresentam quando envergam as vestes pontificais, tendo a sua origem na Pérsia e no Egipto, correspondendo ao turbante e por conseguinte aludindo à adoração de Mitra.

Não admira, pois, que ao culto solar tenha sido sobreposta a adoração ao menino Jesus, sendo-lhe atribuída a data do seu nascimento precisamente numa altura em que os romanos celebravam o natale solis invicti consagrado ao deus Sol, à semelhança do que se verifica com inúmeras festividades pagãs que foram de algum modo adaptadas e "convertidas" à crença cristã. Na mesma ocasião realizavam os romanos as saturnais ou saturnálias que, como o próprio nome indica, eram festividades consagradas a Saturno, trocavam de presentes e organizavam um banquete público, aspectos que de alguma forma podemos relacionar com as tradicionais “festas dos rapazes” em várias localidades de Trás-os-Montes. Aliás, o culto a Saturno chegou a ser muito difundido na Península Ibérica, tendo diversos escritores da antiguidade referido-se à existência de santuários entre os quais se supõe ter havido um na Ínsua do rio Minho, um local onde actualmente as gentes locais vão em peregrinação ao Senhor Jesus dos Mareantes, fazendo festa rija em Agosto. Saturno era o deus protector dos semeadores e das sementes, pelo que os romanos acreditavam que durante as saturnais regressava a abundância, assegurando a fertilidade durante essa época do ano.

Ainda em relação ao mitraísmo, também este possuía extraordinárias semelhanças com o cristianismo, entre as quais a crença no céu e no inferno, na ressurreição, nos pastores que tal como os reis magos ofereciam presentes, no dilúvio, na santificação do domingo, na prática da confissão e da comunhão e, finalmente, a própria celebração do 25 de Dezembro!

A celebração do nascimento de Jesus constitui actualmente uma festa que é vivida com grande grande intensidade pelo povo português e que, apesar da sua significação profundamente religiosa, também não escapa às regras de funcionamento de uma sociedade mercantilizada, virada cada vez mais para os interesses materiais em detrimento dos valores espirituais. Não obstante, as festividades da quadra natalícia encontram-se profundamente enraizadas no nosso folclore revelando-se através das mais diversas manifestações de cariz popular, na gastronomia, na música, nas lendas e de um modo geral em todos os aspectos que envolvem tais celebrações. Não obstante, temos principalmente nos últimos tempos vindo a constatar que tradições oriundas de outros países têm vindo a substituir alguns costumes genuínos do nosso povo, como sucede com a reverência ao "Pai Natal", agora destituído para dar lugar a S. Nicolau, quando outrora as festividades decorriam exclusivamente em torno do "menino Jesus". Da mesma forma que o tradicional presépio cedeu o lugar ao nórdico pinheiro de Natal enfeitado com flocos de neve, mesmo em locais onde jamais nevou...

GOMES, Carlos. http://www.folclore-online.com/

ESPANHÓIS "AMIGOS DE PORTUGAL" EXALTAM BELEZAS NATURAIS DE CARREÇO

“AMIGOS DE PORTUGAL” é um blogue produzido por espanhóis, no endereço http://amigos-de-portugal.blogspot.com/, que acaba de publicou um interessante artigo sobre a localidade de Carreço, no Concelho de Viana do Castelo. O artigo é da autoria de Joaquín Duarte, um cidadão espanhol radicado em Valência mas de naturalidade portuguesa.

Com a devida vénia, transcrevemos o referido artigo, agradecendo o destaque dispensado ao Concelho de Viana do Castelo.

CARREÇO

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Carr rua Gandra

Parafraseando o escritor Ruben A., que foi um apaixonado por Carreço, na década de 40 do século XX escrevia assim – “Ai esta palavra Montedor, lugar maravilhoso da freguesia de Carrêço, típica aldeia alto-minhota, entre o mar e a serra; o farol a alumiar cá pra baixo, os moinhos de vento a girar, a estepe milenar persistente da Gandra, a par de uma beleza panorâmica sem limites.”

Carreço, estende-se entre o mar e a serra, divide-se em quatro lugares: Carrêço, Montedor, Paço e Troviscoso. Entre areia dourada e grandes pinheirais, campos verdejantes alimentados pela humidade da brisa marinha, que os seus lavradores cultivam desde sempre, maioritariamente, o milho. Com a cultura do milho nasceu a necessidade da sua transformação e o aparecimento dos moinhos.

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Carr castillo

Carr praia

Carr praia e dunas

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Carr praia pedras

Nos lugares de Carreço, Pacô e Troviscoso, os lavradores construíram moinhos movidos por água. 

Os moinhos de água têm uma roda horizontal, a qual está ligada ao eixo que movimentava a mó. Outros, não nesta comarca, eram movidos por uma roda vertical, as azenhas.

Carr faro y monte

Entretanto os lavradores do Lugar de Montedor, construíram moinhos movidos pelo vento: moinhos do Petisco, do Marinheiro e de Cima, situados no promontório de Montedor, hoje conhecido pelo monte do Farol.

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Quanto aos moinhos de vento, um tem velas de pano (moinho do Petisco) e os outros dois tem velas trapezoidais de madeira (moinhos de Cima e do Marinheiro), considerados uma raridade em Portugal.

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No século XX, ao finalizar a década dos 40, surge em Carrêço a moagem electromecânica. Dos anos 50 aos 60 a utilização dos moinhos de água, e de vento, vai diminuindo gradualmente. Con esta transformação vai-se perdendo a imagem tradicional da ida ao moinho; do burro, ou cavalo, carregado de sacos de farinha; acompanhado pelo lavrador, ou pela lavradeira. Mas os Moinhos de vento de Montedor seguem vivos, o seu cata-vento, sempre a indicar a direcção e o sentido do vento. O entrono, convida-nos a relembrar a força dos lavradores de Carrêço e o seu engenho na utilização da energia eólica.

Um grande poeta da nossa terra, que ademais foi um dos meus professores de língua portuguesa, Pedro Homem de Melo, escreveu assim sobre estes belos lugares...

MOINHO DAS QUATRO VELAS

 

Moinho das quatro velas

- Moinho de Montedor –

Quatro velas de madeira 

Decepadas pelo ar, 

Enquanto há braços que alongam 

E refrescam e baptizam 

Os nossos olhos cansados... 

Braços nus. Braços de gente. 

E o Floriano dança o Velho, 

Dança o António a Cana Verde 

E dança o Góta o Vicente! 

 

Altas velas de madeira 

- Moinho de Montedor – 

recordam círios de altar. 

Fogem sombras de fogueira 

Ou braços de bailadores? 

Floriano, António, Vicente 

Lembram as ondas do mar... 

Mas sem barcos, mar de “argaço”. 

 

À transparência das águas, 

Quase até que adivinhamos 

Firmes as pernas e os pés 

De quem baila mas vivendo 

A fazer frente às marés. 

 

Por detrás desse moinho 

- Moinho de Montedor – 

Domingos Enes Pereira 

Nasceu. E foi junto dele 

Que se tornou bailador... 

 

Marés de música cheias! 

Floriano, António, Vicente, 

Como o azul das suas veias 

Com certeza que não mente.

 A par daquele moinho 

– Moinho de Montedor - 

(O das velas de madeira!) 

Dança o António a Cana Verde 

E o Floriano dança o Velho 

E dança a Góta o Vicente.  

 

(Helénico, intacto, inteiro) 

Surge, ainda em nossa frente, 

O perfil do Fandangueiro!) 

 

Floriano, António, Vicente, 

Como, o azul das suas veias 

Com certeza que não mente, 

Vêm de perto o vêm de longe 

Marés de música cheias? 

 

Moinho de quatro velas 

Decepadas pelo ar! 

Bailam três moços com elas, 

Depondo círios no altar 

Da minha saudade, à beira 

Do farol de Montedor, 

Dando luz – luz traiçoeira... 

A luz que me há-de queimar! 

 PEDRO HOMEM DE MELO

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Estes dados foram-me facilitados pelo amigo Manuel, filho da terra que, acompanhado da sua esposa, levaram-me por todos os recantos, por eles conhecidos, fazendo prazenteira a minha estadia nesta linda terra.

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Que boas aquelas amoras, e que doces, quando o dia chegava ao seu fim... mas ainda deu para saborear as artes culinárias da mi amiga Augusta: com tão excelente companhia quem quer ir-se embora... foi o dia... foi o dia... por isso fui feliz em Carreço!

EM 1926, ADMINISTRADOR DE ARCOS DE VALDEVEZ AGRIDE E EXPULSA OS VEREADORES

Na Sessão da Câmara dos Deputados realizada em 12 de Março de 1926, sob a presidência de Daniel José Rodrigues, o deputado José Domingues dos Santos protestou contra as arbitrariedades cometidas pelo então Administrador do Concelho de Arcos de Valdevez que, segundo o referido parlamentar, agrediu e expulsou os vereadores do edifício municipal. Escassos meses depois, foi implantada a ditadura militar que veio a abrir o caminho para o estabelecimento do Estado Novo…

Transcreve-se do Diário da Câmara dos Deputados a intervenção a propósito, mantendo-se a grafia original.

 

“Sr. Presidente: Há cêrca de quinze dias já que eu pedi a presença do Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior para tratar de alguns casos que reclamam a intervenção de S. Exa. Lamento que só hoje os possa tratar e espero que, de futuro, S. Exa. seja mais atencioso para com os representantes da Nação, que têm o direito e o dever de formular na Câmara as reclamações que entendem.

Sr. Presidente: quero principiar por apresentar ao Sr. Presidente do Ministério o meu protesto, que é também o da Esquerda Democrática, contra mais uma arbitrariedade cometida por um representante do Poder. Parece, Sr. Presidente, que não vivemos numa terra civilizada, onde impera a lei; parece que vivemos em pleno sertão africano, onde dominam os caprichos e as contingências do acaso.

O caso a que me vou referir é bem sintomático disso.

Em Arcos de Valdevez foi anulada a eleição camarária por despacho proferido por um juiz auditor, de onde não houve recurso, tam graves tinham sido as irregularidades praticadas. Automaticamente, como determina a lei, devia tomar posse a vereação anterior. De facto, assim sucedeu. Mas um dia, em que essa vereação estava tratando sossegadamente de negócios municipais, o administrador do concelho, à frente do alguns díscolos, entrou na Câmara, agrediu os vereadores e pô-los fora do edifício. Sabe V. Exa. Sr. Presidente do Ministério, quem presidia à sessão na Câmara?... O antigo Deputado Sr. Germano de Amorim, que, violentamente, como os outros, foi, pelo delegado de V. Exa., pôsto também fora, insultado e agredido.

Podemos continuar neste regime, permitindo que as piores arbitrariedades, os piores abusos, sejam praticados pelos representantes do Poder? Compete aos representantes do Poder manter a ordem ou são êles, afinal, os próprios a fomentar a desordem? Já mais do uma vez temos chamado a atenção do Govêrno para várias irregularidades que vêm sendo praticadas pelos administradores dos concelhos que, há tempos a esta parte, parecem não ter outra missão senão a do avivar conflitos e comprometer o Poder.

Espero, Sr. Presidente, ser desta vez mais feliz na minha reclamação do que quando há dias protestei também contra um analfabeto, que administra o concelho do Barreiro. Desse caso tratará o meu ilustre colega, Sr. Pestana Júnior.

E indispensável pôr termo a esta forma de lazer administração. Ou vivemos num País onde a luta legal é permitida, ou temos de ir dizer aos nossos correligionários que assim é impossível viver.”

Nadal en Galicia... e súas panxoliñas

Hai festa na parróquia. As xentes xuntam-se à lareira para celebrar a Noiteboa. Unha morea de iguarias enfeita a mesa de torradas molhadas no leite, fritas de gordura e salpicadas con açúcar, compotas de peras no vino tinto, polbo, verduras con bacalhau, sopa de amêndoas, froitos secos e castañas. À mesa ou xunto a lareira, un escano e un prato vazio é propositadamente deixado para los que están mortos a fin de que a alma possa vir comer e aquecer-se. Depois, xuntam-se as panxolas e os rapaces ván con sús traxes pelos veciños cantar suas panxoliñas, quedándose às portas con súas gaitas e panderetas, piden autorizaçón para entrar, cantán e piden alguma cosa.

                                                   A noitiña de Nadal,

                                                   Noite de gran alegría;

                                                   Naceu un reiciño novo

                                                   Fillo da Virxe María.

                                                   Camiñando vai Xosé,

                                                   Camiñando vai María,

                                                   Camiñan para Belén

                                                   A fin de chegar con día.

                                                   Cando a Belén chegaron,

                                                   Toda a xente dormía,

                                                   Menos un pobre porteiro

                                                   Que estaba na portería.

                                                   - Abre as portas, porteiro,

                                                   - A Xosé e María.

                                                   - Estas portas non se abren

                                                   Ata que Deus traia o día.

                                                   - Estas portas non se abren

                                                   Ata que Deus traia o día.

Depois da Noiteboa e súas panxoliñas celebradas na noitiña de Nadal, as festas prolongam-se ata à Noite Vella que ocorre a 31 de decembro e, daí ata Día de Reis em 6 de xaneiro. Conta unha tradiçión galega que todo lo bruxedo praticado na Noiteboa non logra alcançar ninghúm sucesso, pois é a noitiña do nacemento do meniño Xesús, cando a luz triunfa sobre a escuridón, o Bem sobre o Mal.. E, porque é solstício de inverno, as ervas colhidas en noitiña de San Xoán volven a ter o verde de orixe. Revonava-se o fogo na lareira con un gran tizón que depois de se queimar un póco se apaga. O tizón de Nadal apenas volverá a acender-se cando haxa ameaça de peligro. Na Coruña e en Lugo, en Ourense e Pontevedra, desde Ferrol ata A Guarda, da Moaña ata Castroverde, é Nadal en todolos pobos marinheiros e rurais de Galicia, en todalas aldeas e parroquias se celebra unha festa xenuína que ten a ver coa tradición cultural portuguesa em xeral e das xentes do Miño en particular. Como hai dixo o poeta João Verde:

                                                   - Vendo-os assim tão pertinho

                                                   a Galiza mail-o Minho

                                                   São como dois namorados

                                                   Que o rio tráz separados

                                                   Quase desde o nascimento

 

                                                   - Deixal'os, pois namorar

                                                   já que os pais para casar

                                                   lhes não dão consentimento

Hai, pois, que celebrar todolos xuntos en familia, galegos e portugueses, o noso Nadal, com zambumbas e panxoliñas, con ganas pola la chegada do día da gran naçom portugalaica. Hai que cumprir Portugal!

- GOMES, Carlos. In Folclore de Portugal – O Portal do Folclore Português em http://www.folclore-online.com/

O QUE DIZ O “MEMORANDO DE ENTENDIMENTO SOBRE AS CONDICIONALIDADES DE POLÍTICA ECONÓMICA”?

O “Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica”, vulgo "memorando da troika", constitui um documento que produz grandes consequências no funcionamento da Administração Pública e, de um modo geral, na vida de todos os portugueses.

A propósito de tudo e de coisa alguma, invoca-se o referido “Memorando” sem que a maioria dos cidadãos estejam esclarecidos em relação ao seu conteúdo. Por essa razão, sugerimos a sua leitura, podendo aceder através do endereço:

http://www.portugal.gov.pt/pt/GC19/Documentos/PCM/MoU_PT_20110517.pdf

As origens da Coroa do Advento

A Coroa do Advento constitui um dos símbolos da época do Natal a anunciar o nascimento do Messias. Nos domingos do Advento, considerado o primeiro tempo do Ano Litúrgico correspondendo às quatro semanas que antecedem o Natal, as quais surgem representadas nas quatro velas. A família reúne-se à sua volta para rezar e celebrar. Seguindo a sua liturgia, é acesa a vela que corresponde à respectiva semana, entoando cânticos e fazendo leitura de passagens da Bíblia alusivas ao Advento.

As origens desta tradição remontam a antigos ritos colares praticados pelos povos europeus através dos quais celebravam o nascimento do Sol ou seja, o solstício de Dezembro, os quais vieram mais tarde a dar origem às saturnais romanas.

A sua forma circular representava precisamente a divindade solar que ocupava um lugar central em todos os ritos pagãos. Durante o inverso, os povos antigos acendiam grandes fogueiras, simbolizando a luz e o calor em cujo regresso se depositavam as esperanças, aparece simbolizado nas velas que fazem parte dos rituais da nossa fé.

Com efeito, através do rito, os povos antigos celebravam a acção criadora dos Deuses, assegurando dessa forma a ininterrupção do ciclo da vida e da morte num perpétuo renascimento e conferindo ao ritual um cunho de magia.

Porém, partindo de tais costumes e tradições, os cristãos transmitiram a esses povos pagãos uma nova espiritualidade, levando-os a substituir as suas crenças ancestrais. E, desse modo, também a Coroa do Advento adquiriu uma nova simbologia e um novo significado.

Para o cristão, a infinitude do círculo representado na forma circular da Coroa do Advento representa o amor de Deus e a sua eternidade, bem assim como a aliança entre Deus e o Homem.

Os seus ramos verdes simbolizam a Esperança e a Vida na crença da Vida Eterna e da Ressurreição que constitui precisamente aquilo que distingue o verdadeiro cristão.

GOMES, Carlos. http://www.folclore-online.com/

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